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A navalha de Sweeney Todd volta ao Brasil, afiadíssima, na jugular do teatro

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Montagem de João Gofman na UERJ refaz o mito de Sweeney Todd a partir da dúvida: sessões grátis em outubro, com Dennis Pinheiro no papel central  Foto: Estadão

RODRIGO FONSECA 

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Tem sangue, ok! Mas é sangue cênico, espirrado no imaginário do teatro desde a encenação original do musical em inglês, ocorrida em 1979, na Broadway, com Len Cariou no papel central. O espetáculo era inspirado numa peça, Sweeney Todd, de Christopher Bond, lançada em 1973, com base num folclore londrino compilado como texto em 1846, no conto The String of Pearls. Na trama, Benjamin Barker (vivido aqui por Dennis Pinheiro) ganha a vida na navalha. Mas isso até o Juiz Turpin (Erick Rizental) cobiçar-lhe a mulher e armar um golpe para possuí-la, isolando o barbeiro nas catacumbas do mundaréu. Mas, como there's no place like London, Barker volta, refeito como Sweenet Todd, anjo da vingança, que fará de sua gilete o instrumento de um genocídio onde a primeira faz tchan... a segunda faz tchum... e o resto... a Morte completa. Porém, Barker/Todd teve uma filha, Johanna (interpretada pelo quindim Roberta Galluzzo), que precisa ser resguardada pelo pai dos males do mundo. O mal maior é o próprio Turpin. Porém, mais afiada do que as lâminas de Todd, embebidas no tétano da revanche, é o objeto pontiagudo chamado Amor, que vai açoitar o peito da menina na forma do efebo Anthony (Caio Passos). É nessa ciranda que os personagens terão de achar sentido em sua jornada regada a coágulos e às tortas de carne de Mrs. Lovett (Jéssica Freitas), aliada de Todd.

"Montar Sweeney Todd, no âmbito do teatro amador, com um grupo que está começando, é uma forma de procurar novas estéticas, com base num contexto de sujeira, onde nenhum personagem se salva do buraco, do que existe de pecaminoso", diz João Gofman. "A concepção original do espetáculo foi feita em cima de tipos: a puta engraçada, o homem que quer se vingar, o mocinho, a mocinha. Mas tentamos fugir do que há de mais raso nessa tipificação, buscando deixar a dúvida no ar. Que juiz é esse que se diz um bom pai, mas se masturba pensando na filha menor de idade? Que Sweeney Todd é esse que, num momento consegue se sensibilizar, e, noutro, quer matar? O lugar da dúvida parte de uma lacuna a ser preenchida pelo público, como num teatro da imaginação".

"Montar este texto, no atual cenário comercial dos espetáculos musicais, é fugir da comédia, das histórias convencionais de amor e de poesia para falar de uma história suja, mas atual, na qual a Londres de Sondheim, um terreno lúdico, é um espelho para o Brasil de agora", diz Gofman. "A peça começa e termina com A Tender Tale of Sweeney Todd, que indica 'Fique atento' pois você começa o espetáculo torcendo pelo barbeiro, encarando-o como um herói, e, na sequência, passa a se questionar sobre aquela figura. Isso acontece como todos os personagens, numa estrutura de réquiem, sobre o ato de se fazer justiça com as próprias mãos".  

 

 

 

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