Foto do(a) blog

De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

A aurora da capital e de um sonho de Brasil: 'O Outro Lado do Paraíso'

PUBLICIDADE

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Novo longa de André Ristum, ganhador do prêmio de Júri Popular em Gramado, "O Outro Lado do Paraíso" é baseado em livro infanto-juvenil sobre a gênese de Brasília Foto: Estadão

Objeto de estudo (e de contemplação) num melodrama de timbres épicos, laureado com o prêmio de Júri Popular no Festival de Gramado 2015, O Outro Lado do Paraíso desvela o ninho onde foi chocado o ovo da serpente política nacional. Com direção de André Ristum e DNA pinçado de um livro infanto-juvenil homônimo de Luiz Fernando Emediato, o longa-metragem revive os bastidores da construção da sede da República, nos anos 1960, e viaja no tempo com uso de imagens documentais pinçadas de cineastas de peso, a começar por Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) e seu Brasília: Contradições de Uma Cidade Nova, de 1967Num diálogo com uma tradição italiana que começa em Ladrões de Bicicleta (1948), de Vittorio De Sica, e vai até Antes da Revolução (1964), de Bernardo Bertolucci, o épico de Ristum reconstitui o baque da ditadura sobre os sonhadores lá reunidos numa utopia de desenvolvimento do país. Edificado no terreno das narrativas mais clássicas, menos acrobáticas na forma, ele se destaca por sua excelência artesanal.

PUBLICIDADE

Reconhecido como uma espécie de cronista da paternidade nas telas por conta de Meu País (2011), Ristum pilota uma produção de R$ 8,5 milhões sobre os homens que edificaram Brasília, com base no processo de amadurecimento de um menino de 12 anos. O guri, Fernando, vivido por Davi Galdeano, é uma encarnação romanceada do escritor e editor Luiz Fernando Emediato. E ele luta para ter acesso aos livros e à leitura numa cidade do Distrito Federal que começa a nascer sob o respingo do suor dos operários, a começar por Trindade, interpretado com competência por Eduardo Moscóvis. Mesmo nos momentos em que o filme se perde em digressões românticas construídas sem muito vigor dramático entre o jovem Fernando e uma menininha, Ristum mantém na firmeza as rédeas do drama, sempre de olho na relação pai e filho.

Eduardo Moscóvis tem uma atuação comovente 

Esta questão é presente na obra do diretor em parte por influência da ausência presente de seu pai, o cineasta Jirges Ristum, morto em 1984.  Jirges foi amigo e colaborador de grandes cineastas europeus, assim como André, que cresceu na Itália, onde trabalhou com Bernardo Bertolucci em Beleza Roubada (1996), com Liv Tyler. A discussão sobre o amor entre pai e filho alimenta uma veia melodramática que nunca se exalta, conduzindo o espectador com a dose equilibrada de doçura.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.