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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'A árvore dos frutos selvagens' tem raiz na sabedoria de Nuri Bilge Ceylan

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

Rodrigo Fonseca Está marcada para 18 de abril a coletiva de imprensa do comitê de seleção do Festival de Cannes para anunciar os concorrentes à Palma de Ouro de 2019, a ser disputada de 14 a 25 de maio, e divulgar as atrações paralelas da 72ª edição do evento francês. Só que ainda há joias da programação de 2018 para serem desovadas em circuito, como é o caso de "A árvore dos frutos selvagens", do turco Nuri Bilge Ceylan, que estreia aqui no dia 25 de abril. "Fazer cinema é minha forma de estudar a natureza humana e driblar o provincionismo", disse Ceylan ao Estado na Croisette, em maio passado.

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Existem cineastas cuja filmografia quase integral se fez conhecer mundialmente via Cannes, o que torna esses artistas xodós da casa, como é o caso deste artesão da autoral Tuquia, cuja carreira começou em 1995. Aos 60 anos, o ator e realizador de marcos como "Era uma vez na Anatólia" (2011) teve seis de seus nove filmes exibidos por lá em anos anteriores e chegou a ganhar a Palma de Ouro, em 2014, com "Sono de Inverno". "The Wild Pear Tree", título original de seu mais recente trabalho, só agora com sinal verde para estrear no Brasil, é um doloroso conto moral sobre paternidade, literatura e inveja. Sua sessão para a crítica no festival cannois do ano passado terminou com uma calorosa salva de aplauso. Na trama, o jovem recém-formado Sinan (Dogu Demirkol) volta para a casa dos pais, numa zona rural, a fim de escrever um romance e realizar seu sonho de ser escritor. Porém, ao regressar, ele se dá conta do quanto a figura de seu pai, Idris (Murat Cemcir), um professor em vias de se aposentar, é uk fardo na sua vida e na de sua mãe (Bennu Yildirimlar, numa das muitas boas atuações femininas desta edição de Cannes).

"O que me importa aqui é a trajetória de um jovem que não se submete às convenções morais turcas em nome de sua própria independência. Usei muitas citações a romances e à filosofia no roteiro, mas tive o cuidado de não resvalar em uma narrativa de muita literatice, buscando explorar a dimensão trágica da figura paterna", diz Ceylan.

Apesar de longuíssimo (188 minutos), "A árvore dos frutos selvagens" se mantém firme na tela pelo rigor dos enquadramentos de Ceylan e pela dimensão trágica de seus diálogos. "Estava com um outro projeto em vista quando esta história me caiu nas mãos e busquei conta-la de modo palatável, explorando uma discussão sobre liberdade", diz o cineasta. "Aprendi na obra de Anton Chekhov que existem angústias que precisam ser encaradas de frente para serem expurgadas".

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