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Murilo Busolin fala de cultura pop: música, séries e filmes sem descartar os 'guilty pleasures'

A doce representatividade de 'Luca'

Assisti ao mais novo longa da Pixar sem ler a sinopse e sem abrir o trailer, apenas notei o banner da estreia de Luca na Disney+, achei fofo e, como estou carente de uma produção mais leve (brasileiro, né?), vi logo no dia do seu lançamento, 18 de junho.

Por Murilo Busolin Rodrigues
Atualização:

O resultado? Chorei copiosamente durante os minutos finais, fui pego desprevenido. A animação faz uma retratação estupidamente detalhada do verão italiano.

 

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Atenção: ao avançar este texto você vai se deparar com spoilers, portanto, se ainda não assistiu, recomendo que leia a minha análise somente depois, ok? Paz!

A história tem como protagonista o encantador Luca, um monstro marinho curioso que vive submerso com uma família pra lá de protetora. Seus patriarcas tentam ao máximo evitar que ele descubra que, fora da água, todos eles viram seres humanos. E falham, claro.

O garotinho se torna o melhor amigo e também a única companhia de Alberto, outro monstro marinho, que, por não ter um pai presente, vive sem medo algum de se deslocar para o chão seco.

O ousado faz com que o tímido descubra que o mundo na superfície é perfeito para qualquer pré-adolescente livre.

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Lucas e Alberto são personagens baseados na vivência do diretor Enrico Casarosa e seu amigo de infância, também chamado Alberto. FOTO: Disney/Pixar  

A dupla decide explorar a ilha de Portorosso e se conectam com Giulia, filha de um bruto pescador. A menina é constantemente ridicularizada por Ercole Visconti, o valentão do pedaço.

O trio se une em busca de vencer uma competição 'diferentona' de triatlo - e é neste ponto que a aguardada mágica da Disney acontece. Aquela abordagem com sutileza ao inserir temas importantes em suas produções, sabe?

Por mais que o diretor do longa, Enrico Casarosa, afirme que Luca não foi baseado na temática LGBTQIA+, é praticamente impossível não traçar paralelos entre a realidade da comunidade com os três personagens do filme.

Classificados como 'Os Excluídos', as três crianças não possuem o respeito e aceitação da maioria. Essa foi a minha infância e infelizmente, deve ter sido a infância de muitos outros.

Quem nunca se sentiu como um dos 'excluídos' nessa vida? A rejeição é quase que uma marca registrada da maioria dos adolescentes. FOTO: Pixar/Disney  

Não ser bom o suficiente para jogar futebol com os meninos da sala e ainda ter que lidar com os olhares de reprovação por preferir outro esporte considerado 'mais feminino' por eles, como o vôlei.

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Não ser chamado para os encontros dos populares, mas ainda assim alimentar a falsa necessidade de querer ser aceito pelos mesmos.

Sabe aquele velho papo, que mais parece o enredo de qualquer filme da Sessão da Tarde, mas retrata o triste bastidor de uma criança excluída em seu amadurecimento? É nessa ferida, já cicatrizada, que Luca cutuca.

E o que cura o afago de uma rejeição? A união com outro rejeitado.  Observamos isso com o máximo de carinho no relacionamento de brilhar os olhos entre Luca e Alberto.

O medo de não serem aceitos  - e por serem tachados como monstros, perigosos para os seres humanos 'normais' - faz com que os dois escondam a sua verdadeira personalidade até da mais nova amiga, Giulia. Queira ou não, todos esses aspectos citados podem ser colocados na mesma perspectiva na vida de um LGTBQIA+.

"Algumas pessoas nunca vão aceitar ele. Mas outras vão, e parece que ele sabe encontrar as pessoas boas." Soa familiar?

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Poderia ser a feliz aceitação de uma família, mas é a importantíssima frase da avó de Luca ao comentar a nova vida mais exposta do garotinho, que, no fim das contas, não precisa mais se esconder da sociedade.

As redes sociais fomentaram a comparação de que 'Luca' é uma versão infantil de 'Me Chame Pelo Seu Nome'. Arrisco em dizer que não estão 100% errados... FOTO: Pixar/Disney  

A sensibilidade e delicadeza apresentada na animação incluem todos os estágios de uma grande amizade, com destaque para os típicos altos e baixos.

Amar o outro é querer ver o seu melhor, independentemente de qualquer situação - mesmo que isso signifique ficar a milhares de quilômetros de distância da pessoa amada.

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