Estadão
23 de março de 2012 | 12h23
Em quase todas as novelas sempre foi assim. Existia o núcleo principal, formado por ricos. Aqueles que tinham criados, tomavam um café da manhã “de novela” e moravam em bairros de elite. Principalmente na zona sul carioca. Ou no Leblon, se a novela fosse do Manuel Carlos.
Do outro lado estava o núcleo pobre. Nos folhetins, a complexidade da luta de classes sempre foi resolvida de maneira simples. Núcleo pobre (em um subúrbio alegre, geralmente cheio de samba) e os ricos. Pronto.
Detalhe importante. A audiência da novela é formada por muita gente. Mas em boa parte pelos “núcleos pobres” da vida. A imagem da casinha no meio do nada com antena de TV sempre foi marcante. Assim como o mar de parabólicas nas favelas. Mas quem tem menos grana sempre foi acostumado a não ser protagonista de nada. Então, sonhava-se com o café de manhã de “novela” e ficava tudo bem.
Até que a classe C (que repito, sempre viu novela) começou a ganhar dinheiro. Não, não sou especialista em teledramatugia. Mas a Griselda de Fina Estampa é uma protagonista de núcleo pobre (que ganhou na loteria, mas não abandonou os colegas de “núcleo”). E a próxima novela das nove, Avenida Brasil, que estreia segunda, promete deixar a zona sul do Rio de Janeiro de lado e mostrar principalmente o bairro do Divino, um subúrbio.
A promessa: que o núcleo pobre pare de ser “uma beirada” e vire protagonista da trama. Vamos esperar e torcer. Quem sempre assistiu novela e nunca teve uma vida glamourosa de “novela” merece ser retratado como protagonista, certo? Agora, com a força da grana (os anunciantes sabem que a classe C consome, oh, como sabem) chegou a hora de, finalmente, milhares de telespectadores serem retratados. O Brasil de mentirinha, com seus almoços servidos por empregadas vestidas de branco começa a desaparecer. Pelo menos nas novelas. Quer dizer, vamos torcer.
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