Mas fato é que as peças dessa "volta" não combinam. Se alguém contasse que isso iria acontecer um dia, todo mundo pensaria que era invenção. "Como?". A ideia bizarra, parece, foi da MTV, a emissora que fez o famoso Acustico com a Legião Urbana mais de 20 anos atrás. E que entrevistou Renato Russo com muita dignidade várias vezes. A sensação é de que alguma coisa se perdeu (a tal dignidade) quando a gente dá de cara com a volta da banda, assim, do nada.
Vamos lá. Renato Russo era um pop star cheio de peculiaridades. Ele dava muito "piti", ele parava shows no meio. E não, ele não aceitava tocar em festivais patrocinados. Negou várias vezes tocar no então Hollywood Rock (sim, nos anos 80-90) cigarro podia patrocinar coisas. Renato Russo não era um vendido. Não. De forma alguma. Ele era digno. E sua relação com a fama sempre foi essa. De entrega aos fãs. De pé atrás com o mercado. Seu ídolo máximo e espelho era Morrissey, o cantor que veio ao Brasil mês passado dando aula de dignidade simplesmente sendo ele mesmo.
Bem, Renato Russo morreu. E é impossível não fazer piada com sua banda. E não pensar que ele está se revirando no tumulo. E não imaginar o que ele acharia disso tudo. Os ingressos já estão sendo vendidos a 200 reais. Os ensaios já começaram e já existe até foto de divulgação da tal "homenagem" ao Renato Russo. Homenagem com ingresso a 200 reias? Homenagem para ser transmitida (e provavelmente conseguir muita audiência) da MTV?
Hora de recorrer a Morrissey, artista que Renato amava tanto que quase imitava. "Na reunião da gravadora, nas mãos deles: uma Estrela morta, Ah, os planos que eles armam. Ah, a ganância doentia. Na reunião da gravadora, uma estrela morta. Os babacas velhos dizem: "o conheci pessoalmente, e eu o conheci primeiro. E eu o conheci bem. Relance. Reembrulhe". A letra brilhante de "Paint a Vulgar Picture" diz ainda: você poderia dizer não. Se você quisesse. Bem, Renato Russo não pode dizer não porque os mortos não falam, certo?
É difícil a "vida" de uma estrela morta.