Luiz Carlos Merten
Em 1960, quando Alfred Hitchcock se lança ao desafio de realizar 'Psicose', o mundo e o cinema estão mudando. Ao longo dos anos 1950, uma geração de novos diretores contestou o sonho americano e abriu caminho em Hollywood. A década seguinte iria mudar tudo. Fellini antecipou as mudanças e ganhou a Palma de Ouro em Cannes com 'A Doce Vida'.
Em seguida, o 'Código Hays', que disciplinava o uso do sexo e da violência nas produções, foi arquivado. 'Psicose' surgiu nesse bojo. Agora, completam-se 50 anos de um dos filmes mais influentes da história do cinema. A data está sendo lembrada pela Sala Cinemateca, que vai reexibir o filme - a versão restaurada reestreou em Cannes, em maio - e o remake de Gus Van Sant.
Foram mais de 70 posições de câmera que Hitchcock usou para 40 segundos de filme, apenas, na cena do assassinato de Marion Crane na ducha, em 'Psicose' (assista no nosso site). O feito gerou inúmeras imitações - de Brian De Palma, por exemplo -, mas também alimentou a estética da MTV.
Quando fez 'Psicose', Hitchcock vinha de uma sucessão impressionante de obras-primas: 'Janela Indiscreta', 'Um Corpo Que Cai', 'Intriga Internacional'.
Na época, fazia sucesso o show de TV Alfred Hitchcock Presents, no qual o próprio mestre apresentava relatos de suspense. Buscando um projeto para empregar, no cinema, as técnicas da TV, ele concebeu esse modelo de filme barato, para ser feito com uma pequena equipe.
'Psicose' nasceu com a intenção declarada de pesquisar a linguagem - e a própria dramaturgia. O filme começa acompanhando a personagem de Janet Leigh. Marion Crane, que Hitchcock definia como uma 'pequeno-burguesa ordinária', que rouba da firma para tentar resolver sua ligação amorosa com um homem casado.
Ela vai parar no motel de Norman Bates, personagem de Anthony Perkins. Há um diálogo complexo entre Marion e Norman. Ele expressa uma visão mórbida do mundo, na qual não existe perdão nem segunda chance. Marion discorda e termina sua fala dizendo que precisa ir para a cama porque amanhã terá um longo dia. A ducha faz parte desse movimento. Em busca de uma purificação - disposta a pagar por seu crime -, Marion entra no banho. A câmera entra com ela. Vemos, através da cortina de plástico, o vulto que entra no banheiro. A cortina é descerrada brutalmente, Marion é morta a facadas.
Quem matou? Na sequência, ouve-se a voz de Norman imputando o crime à mãe. Mas não demora muito e o espectador descobre que Norman não tem mãe e mora sozinho no motel. O que está ocorrendo? Há 50 anos, era não apenas raro como insólito o que Hitchcock propunha. Janet Leigh era a estrela de 'Psicose' e nenhum espectador de filmes de Hollywood entrava no cinema para ver a estrela morrer com apenas um terço da projeção do filme. Isso já era um choque. A brutalidade do assassinato compunha um quadro mais inesperado ainda. Concluída a tragédia, há um epílogo no qual o psiquiatra explica o trauma que está na origem da psicose de Bates.
O culto ao clássico foi instantâneo. Críticos importantes logo perceberam que 'Psicose' não apenas subvertia postulados estéticos e narrativos tradicionais, mas a densidade emocional da cena da ducha, o seu significado profundo, davam nova aura ao uso que o grande diretor fazia, afinal de contas, de uma peça de literatura barata.
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ENTRADA FRANCA
PROGRAMAÇÃO
17.08 | TERÇA
SALA CINEMATECA PETROBRAS
19h00 PSICOSE - TRAILER ORIGINAL | THE MAKING OF PSYCHO
21h00 O SUSPENSE SEGUNDO HITCHCOCK | PSICOSE (1960)
18.08 | QUARTA
SALA CINEMATECA PETROBRAS
19h00 PSICOSE (1998)
21h00 PSICOSE - TRAILER ORIGINAL | THE MAKING OF PSYCHO
19.08 | QUINTA
SALA CINEMATECA PETROBRAS
19h00 O SUSPENSE SEGUNDO HITCHCOCK | PSICOSE (1960)
21h00 PSICOSE (1998)