Violeiros mantém tradição na zona leste de São Paulo

Por Marici Capitelli

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Por Cristiane Bomfim
Atualização:

A música é daquelas que não se ouve nas rádios, mas todo mundo sabe a letra e canta junto. É com esse misto de emoção e preservação da cultura que um grupo de cantores caipiras se apresenta gratuitamente toda semana na União dos Moradores Pró Vila Santa Clara e Adjacências, na região da Vila Ema, zona leste. Os músicos têm plateia garantida, inclusive com jovens do bairro.

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As apresentações ocorrem todas as noites de sexta-feira e a cantoria se estende por cerca de três horas. "Nossos moradores são pessoas mais idosas, a grande maioria vinda do interior, e os shows fazem com que recordem o passado. É por isso que alcançam tanto sucesso", explica o advogado Emídio Piccoroni, de 51 anos, presidente da associação de moradores. Ele mesmo, apesar de não ter nascido no interior, é um apaixonado pela música caipira.

Os shows começaram com uma brincadeira na associação de moradores, mas caíram no gosto da vizinhança e já completam três anos de sucesso.

Em média, seis violonistas se apresentam no palco da associação. São homens com idades entre 60 e 80 anos, moradores da zona leste, que tocam e cantam músicas ao estilo de Tonico e Tinoco, Pedro Bento e Zé da Estrada, Tião Carreiro e Pardinho. Nenhum deles ganhou a vida como músico, embora façam parte de duplas e tenham CDs gravados.

Todos os dias Jarbas Vilaça Martins, de 80 anos, toma mel e mastiga cebola para manter a voz em ordem. Como os demais músicos, não recebe remuneração. "Gosto muito desses shows porque me fazem bem. A música lava a alma", justifica Martins, morador do Parque São Lucas.

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Desde os 18 anos ele toca música caipira. Embora nunca tenha vivido da arte, durante mais de 20 anos fez parte da dupla Roceiro e Lavrador. Ele e o parceiro, que já morreu, se apresentaram em rádios e fizeram shows pelo País. "Mas nunca vivi da música porque precisava de estabilidade para criar meus três filhos." É aposentado como supervisor de segurança. "Hoje, são meus filhos que me incentivam a continuar cantando. Vou até quando minha voz aguentar."

Araci Gonzaga Rocha, de 66 anos, conta que há 50 a música caipira entrou em sua vida, quando morava em Penápolis, no interior do Estado. Sempre teve de conciliar o trabalho de metalúrgico com as apresentações que fazia com seu parceiro, Novaes. Eram conhecidos como os Carga Pesadas. "A música caipira é a minha vida." Ele ainda faz de dois a três shows por mês em que ganha entre R$ 400 a R$ 1,5 mil.

Como os colegas, o violeiro Luiz Aparecido dos Santos, de 69 anos, aprendeu a tocar música caipira sozinho. Embora as canções caipiras tenham sido sempre a sua paixão, também priorizou o trabalho para sustentar a família. Ainda hoje é pasteleiro no Parque São Lucas, mas nas noites de sexta, solta a voz e os dedos no violão. "No tempo que sobra, eu me dedico à música caipira." Sonha em montar um festival na associação. "Pelo interesse do público que temos aqui, acho que daria certo."

* A matéria foi publicada hoje no 1º Caderno da edição impressa do Jornal da Tarde

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