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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|o punk ñ morre

Ontem os carros pararam para eu atravessar uma faixa de pedestres na Rua João Moura.

Atualização:

Numa quadra tranquila, que tem até lombada.

Tão civilizado, que os sabiás pararam de piar.

Diante de uma escola e uma casa modernista, que o kassabismo quer colocarabaixo.

Haverá sábado, 15h, na Praça Benedito Calixto, manifestação contra a verticalização de Pinheiros.

Fenômeno que está acabando com São Paulo.

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Atravesso a faixa até a metade, agradeço com a cabeça os educados motoristas, sentindo que cidadania é aquela semente que, se regada...

Vou atravessar a outra metade, quando 1 carro quase me atropela.

Não parou, nem olhou, não respeitou.

Xinguei como um solista de ópera.

Ele me mostrou o dedo e continuou.

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O playba ainda tinha um adesivo de uma banda playba no vidro traseiro.

Não sei o que me deu.

Calibrei a velocidade e fui atrás, com minha cadeira motorizada Quickie P200, bateria selada, LEVE, centro de gravidade baixo e pneus de 16" novos.

Quando a comprei, em 1995, pedi na loja: Quero a mais rápida.

Não sei se ainda é.Mas chega fácil a 14 km/h.

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Uma bicicleta em marcha normal.

Como a ladeira me favorecia, chegaria a mais.

Ah, o desgraçadinho parou no farol.

Acelerei.

Imaginei o playba olhando pelo retrovisor e concluindo: Melhor não encarar, este aí é possuído.

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Ou, como costumam falar de cadeirantes irados: Este aí não se conformou

Ao me aproximar, eu já tinha o plano traçado.

Se ele saísse do carro para me encarar, eu voaria com a cadeira até seus 2 joelhos.

E voltaria de ré para atropelá-lo e ficar em cima do seu braço.

Já fiz isso com um frentista francês que tentou me roubar.

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Fiquei na dúvida se gritava: "Aqui é curintia!"

Nós, curintia, estamos ligeiramente exacerbados, descontrolados, nos achando os donos do mundo.

Até meus porteiros curintia estão diferente.

Esta arrogância não faz bem...

Mas o cara de tão assustado engatou, foi pela contra-mão e furou o farol vermelho.

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Posso confessar que eu, apesar de não aparentar, me sentia mais um jogador de xadrez do que um beque de fazenda num jogo de mata-mata.

Planejei cada passo do ataque.

Um deles era: jogaria o braço móvel da cadeira no vidro traseiro se ele fugisse.

Bem no adesivo da banda de playba.

Mas havia crianças na calçada.

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Não adianta.

Sou curintia e da geração que não deixava barato.

Que devolvia bomba de gás para a Tropa de Choque, enquanto a liderança do movimento estudantil gritava: Não reajam!

E estive neste show aí, há 30 anos.

No SESC POMPEIA.

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De roupa preta!

Na primeira fila.

Por isso me chamam de metido.

Cadeirante tem que ficar em casa deprimidinho.

Vai nessa...

No mesmo ano, mesmo local, lancei FELIZ ANO VELHO

E depois BLECAUTE, que "retrata" o fim do mundo.

DEMOCRACIA CORINTIANA era desta época também.

Como os primeiros discos do TITÃS, IRA, LEGIÃO...

E a derrota do dream team, a SELEÇÃO DE TELÊ.

Vai ter muita coisa fazendo 30 anos.

Os planetas estavam alinhados.

 Foto: Estadão

 

 Foto: Estadão
Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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