Ganhei até o Prêmio Shell de melhor texto com ela.
O que deixou mamãe bem orgulhosa, apesar de reclamar que a peça tinha muitos palavrões, e o protagonista usava Havaianas.
Aliás, uma rotina: ela sempre reclamava dos palavrões da minha obra.
E dos figurinos das minhas peças.
Dizia que meus atores eram mal vestidos.
E que quem vai ao teatro quer ver coisa bonita, caprichada.
Minha mãe é uma pessoa fina, sofisticada, fala línguas, estudou em escola francesa.
Advogada, tradutora, especialista em Dostoievski e nos Iluministas.
Uma lenda viva.
Tadinha, só a envergonhei com minhas peças cabeludas e provocativas.
E meus elencos com roupas do dia a dia.
Sem contar os personagens degenerados, drogados, sexistas, tarados, vagabas...
Eu dizia que era teatro naturalista, que o figurino ajudava a compor o personagem.
Ela dizia que mesmo assim 1 ator jamais deveria atravessar um palco com sandálias em que aparecessem as unhas.
O filme está prontinho.
Roteiro meu e do Lusa Silvestre.
Acho que nossos nomes aparecem no cartaz lá no cantinho.
Em destaque, só os das gostosas e galãs.
Talvez com um zoom consiga vê-los.
Mas, e daí?
Eles que são do front de batalha.
Nós apenas escrevemos a declaração de guerra.
Ator é a alma do teatro, comédia e drama.
E do cinema também, acho.
Aguarde...
Mas já vou avisando, é produção carioca, deve estar assim de neguinho descalço, de sandália, de unha aparecendo.