Bem, por um tempo, foram.
Maquiavam apresentadores.
Fonoaudiólogos treinavam vozes.
Penteados e figurinos os colocavam em sintonia com a imagem do equilíbrio.
Evitavam cores fortes e camisas listradas, que atrapalham a transmissão.
Preparavam o cenário para transformar estúdio em cozinha, sala, mesa de debates.
A luz estourada evitava sombras. Ainda há uma obsessão de diretores e iluminadores pela destruição da sombra e iluminação do nada, como se no mundo ela não existisse ou atrapalhasse a harmonia visual dos ambientes.
Segunda obsessão era pelo tripé, como um quadro de museu, para não atrapalhar o que era dito.
Era grande a dificuldade de convencer técnicos a deixarem o tripé na viatura.
Nos anos 80, com a portabilidade dos equipamentos, a era do tripé ficou para trás.
Na produtora Olhar Eletrônico, atual O2, o câmera Fernando Meirelles era até o personagem Valdeci, do repórter Ernesto Varela (Marcelo TAS).
Interagiam.
O objeto eletrônico, que no fundo era o espectador, emitia opiniões, chacoalhando "sim", "não", "talvez".
Havia a missão: descobrir uma nova linguagem para TV, torná-la mais humana, informal, próxima do telespectador, que não tinha o topete de Sérgio Chapelin, nem a voz poderosa de Cid Moreira, e que aprendia a emitir opiniões.
Não tinha reflexão no apresentador.
Reflexão = humanidade
Quando se veem hoje apresentadores irreverentes, sabe-se que o processo de transformação começou lá trás. E não era gratuito.
Era a geração que queria votar para presidente e tudo mais.
Seguia princípios ideológicos, como tudo que é relevante nesta vida.
Muitas vezes, é tão simples fazer história.
Mas quem diria que um programa anti-TV, ou não TV, o gênero reality show, estaria no horário nobre da maioria das emissoras?
Primeira leitura: gente comum disputando grana e fama das grandes estrelas; uma Revolução Francesa na tela; o fim dos privilégios de uma aristocracia que dominava o meio há décadas.
Porém, a mensagem não é compartilhar, unir, fratertiné, mas destruir o outro cidadão para, sozinho, conquistar o grande prêmio.
Como?
Muita traição e complô.
É um paradoxo dentro do outro.
O participante do reality show aprendeu.
Sabe que faz parte de um jogo, em que pessoas ditas normais fingem que vivem a "vida real", mas estão interessadas na busca da capa da revista e do paredão alheio.
Para isso, precisam eliminar (prejudicar), guilhotinar, como numa era de terror midiático.
Cidadãos disputam o melhor corte de cabelo, brigam com chefes de cozinha, choram quando são derrotados, enfrentam provas que demonstram "superação", costumam ser humilhados, aceitam as regras.
Mas não é apenas falta de inteligência- ou excesso de músculos, narcisismo e tatuagens dos personagens- que agride o telespectador.
É a mensagem de individualismo, que nada tem a ver como mundo de hiperconectividade, redes sociais, militância online e preocupações com sustentabilidade que os novos tempos despertam.
As pessoas querem agregar, repartir, não se aproveitar das fraquezas de outros.
O mundo mudou.
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E saber que foram vários os LEÕES...
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Se esta propaganda saísse hj, o Conar diria que há preconceito contra os gordos?