Numa das paisagens urbanas mais deslumbrantes, fruto da engenharia humana, a Pont des Arts, de Paris, casais do mundo todo resolveram intervir e prender cadeados em seu gradil, como prova de amor.
Não amor à civilização, humanidade, igualdade, fraternidade e liberdade.
Mas ao casinho, ao namorido, ao parceiro, ao amante.
Trancavam um cadeado no beiral de ferro trabalhado há séculos, da ponte construída no começo de 1800, e jogavam a chave no Sena, esperando um amor duradouro.
Me lembro que a vi com meia dúzia de cadeados. Fui a Paris umas quatro vezes (a trabalho) e acompanhei o crescimento desordenado e exponencial desta aberração urbana, numa das minhas e de muitos paisagens preferidas.
Paris é abarrotada de turistas.
É a cidade luz, do romance, do amor, das artes, o museu a céu aberto.
Prender cadeados numa obra de arte, além de pretensioso, não ia dar certo.
Nem sei se funciona numa relação amorosa se sustentar apenas com a tranca de um cadeado de bicicleta que custa de dez a 50 euros.
Não deu: começou a abalar a estrutura de 45 toneladas.
Finalmente, o gradil começou a ser retirado, depois de meses de debate na Prefeitura.
Nem teve protestos. E sim turistas, com sua câmeras.
O medo é que os casais procurem outras pontes, como a Pont Neuf, para simbolizar o amor.
Já são vistos cadeados na Pont de l'Archevêché e nas redondezas.
Enquanto os apaixonado não encontrarem formas mais sensatas de provar o amor, falta agora catar as estimadas 700 mil chaves que estão no leito do Sena, que corre abaixo.
Daria para construir outra ponte com elas.