A síntese da dupla Oswald e Mário de Andrade será dissecada na alma cultural de São Paulo, o Centro Cultural na Rua Vergueiro.
A amizade dos Andrades (que começou há cem anos) volta na exposição MARIOSWALD que pretende se se debruçar sobre uma das mais célebres e produtivas histórias de amizade da literatura brasileira.
Com palestras, filmes, teatro, dança e música.
Terá de Ronaldo Fraga, Tom Zé a José Wisnik.
Amizade que propôs a antropofagia da cultura europeia.
Propôs um novo Brasil, relido por Darcy Ribeiro.
A história dos dois, que não eram parentes e foram o combustível da Semana de Arte Moderna de 1922, numa São Paulo provinciana, rica, que se industrializava, mudou a cultura brasileira para sempre e influenciou o cinema novo, Teatro Oficina, tropicalistas e concretistas, enfim, o biscoito-fina da nossa cultura.
Eram Apolo e Dionísio reinventando o Brasil.
Eram Danton e Robespierre revolucionando a cultura brasileira.
Eram os opostos e se completavam.
Quando o escritor-jornalista-roqueiro-bossa-nova Cadão Volpato assumiu o comando do centro há meses, viu um espaço democrático, vibrante, músico-teatral.
Mas viu uma biblioteca deslumbrante subvalorizada.
Escreveu sobre o evento:
"De um lado, um Mário quase institucional, musicista de formação, uma promessa do piano que perdera a confiança nas próprias habilidades depois da morte de um irmão, em consequência dos ferimentos sofridos numa provavelmente selvagem partida de futebol. Um homem de enormes conhecimentos, poeta relutante no começo, romancista de talento e modernista de primeira hora, ainda que tivesse um caráter mais reservado. Do outro, um Oswald mais afeito às vanguardas internacionais, com um senso de humor próximo dos dadaístas, um espírito viajante e uma curiosidade sem fim".
E fez as comparações:
Mário, alto e calvo, óculos redondos, nascido na classe média.
Oswald, mais atarracado e gorducho, olhos azuis com grande poder de fogo, família de posses, dona de quase todo o bairro Cerqueira César, em São Paulo.
A dupla brigou por volta de 1929.
Na verdade, briga não apenas pessoal, mas foi um racha do movimento.
Nunca mais fizeram as pazes.
Segundo o crítico Antonio CANDIDO, no artigo Digressão Sentimental sobre Oswald de Andrade, de 2011:
"Por que motivo brigaram, nunca perguntei nem eles me disseram. Sei que houve uma ruptura maior, ficando de um lado Mário, Paulo Prado, Antônio de Alcântara Machado; de outro, Oswald, Raul Bopp. Sendo desprovido de rancor e esquecendo facilmente as birras, é natural que Oswald tivesse vontade de se reconciliar com o antigo amigo, o que esboçou mais de uma vez por intermédio de terceiros."
CANDIDO de lembra que os encontrou em 1943, quando escritores se organizavam na luta contra Vargas, para a Associação Brasileira de Escritores.
Uma reunião ocorreu no escritório do Plínio Mello. Presentes Mário de Andrade, Sérgio Milliet, Mário Neme, Abguar Bastos. Entrou Oswald, todo de branco, e, ao ver quem estava ali, deu um vago bom-dia geral, enquanto Mário ficava impassível.
"A certa altura Oswald soltou uma daquelas suas extraordinárias piadas e nós nos pusemos a rir. Mário tentou manter seriedade e ficar de fora; retesou o corpo, tremeu a boca, não aguentou e desandou também num riso amarrado, mas sacudido e intenso. Oswald, que ao fazer a piada olhara para ele como quem observa o efeito de um golpe calculado, manifestou o maior prazer, rindo com extraordinária jovialidade."
A convivência dos dois foi íntima no decênio de 1920.
Tinham ideias comuns, pensavam as mesmas coisas ao mesmo tempo, como se pode ler nas cartas de Mário a Manuel Bandeira.
Oswald teria dito, numa roda, que Villa-Lobos, segundo Mário, era um ignorante.
Mário, entusiasta do compositor, negou e foi tomar satisfações.
"Mas, além das afinidades notórias e das coincidências, é provável que a influência inicial de Oswald (mais ousado, mais viajado, mais aberto) haja sido decisiva para levar Mário, tímido e provinciano, ao mergulho no Modernismo."
A birra continuou.
Oswald, gozador, inventava mentiras sobre Mário, que não gostava.
Politicamente, racharam quando Oswald, já sob influência do PCB , criticou a sociedade paulistana no Theatro Municipal em 1945, sob vaias.
Mário discordara dele.
Candido escreveu que Oswald chorou muito com a morte de Mário em 1945.
Anos depois, em 1954, meses antes de morrer, o chamou para conversar e confessar a admiração por Macunaíma.
Ainda disse: "Sem Mário, não teria havido o Modernisno."
Ambos estão enterrados no mesmo Cemitério da Consolação, na mesma rua 17.
A PROGRAMAÇÃO é extensa.
25/04 - TERÇA.
18h Mário Cinéfilo: Esposas ingênuas
Sala Lima Barreto
19h MáriOswald abertura
Sala Tarsila do Amaral
20h Mário Cinéfilo: Frame Circus e os filmes de Mário de Andrade
Sala Lima Barreto
20h Conferência de abertura: Mário e Oswald - amor e inimizade, com José Miguel Wisnik
Sala Adoniran Barbosa
26/04 - QUARTA
10h às 20h MáriOswald
Sala Tarsila do Amaral
14h30 Missão de Pesquisas no CCSP (visita com agendamento:
visitasccsp@prefeitura.sp.gov.br)
18h Mário Cinéfilo: O homem mosca
Sala Lima Barreto
19h Esbarro - O encontro de Oswald e Mário de Andrade
Espaço Mário Chamie
(Praça das Bibliotecas)
19h30 Mesa Legado
Espaço Mário Chamie
(Praça das Bibliotecas)
20h Mário Cinéfilo: O homem do pau-brasil
Sala Lima Barreto
20h Manuela
Sala Jardel Filho
21h Conferência: Ronaldo Fraga (estilista) fala sobre Mário de Andrade, seu mentor
intelectual
Sala Adoniran Barbosa
27/04 - QUINTA
10h às 20h MáriOswald
Sala Tarsila do Amaral
15h Mário Cinéfilo: O garoto
Sala Lima Barreto
17h Mário Cinéfilo: Macunaíma
Sala Lima Barreto
19h Mário Cinéfilo: Esposas ingênuas
Sala Lima Barreto
19h Esbarro - O encontro de Oswald e Mário de Andrade
Espaço Mário Chamie
(Praça das Bibliotecas)
19h30 Mesa Amizade e Ruptura
Espaço Mário Chamie
(Praça das Bibliotecas)
21h Show: Iara Rennó disseca sua versão de Macunaíma
Sala Adoniran Barbosa
28/04 - SEXTA
10h às 20h MáriOswald
Sala Tarsila do Amaral
10h às 20h Antropofagia
Piso Flávio de Carvalho
16h Mário Cinéfilo: O garoto
Sala Lima Barreto
18h Mário Cinéfilo: O homem do pau-brasil
Sala Lima Barreto
19h30 Mesa Repercussões Expandidas
Espaço Mário Chamie
(Praça das Bibliotecas)
20h Mário Cinéfilo: Lírio partido
Sala Lima Barreto
29/4 - SÁBADO
10h às 20h MáriOswald
Sala Tarsila do Amaral
10h às 20h Antropofagia
Piso Flávio de Carvalho
14h Crenças, mitos, símbolos e... Mário!
Sala Jardel Filho
14h30 Agrupamento Teatral
Sala de Leitura Infantojuvenil
15h Mário Cinéfilo: Macunaíma -
Após a exibição do filme haverá aulapalestra com Carlos Augusto Calil
Sala Lima Barreto
19h Mário Cinéfilo: O homem mosca
Sala Lima Barreto
19h Show: Elo da Corrente embarca na viagem das Missões
Sala Adoniran Barbosa
21h Curta-documentário Marília de Andrade e Resultado cênico do Estudo coreográfico
de pesquisa prática-teórica (Curso de Dança da Universidade Anhembi Morumbi)
Espaço Missão
30/04 - DOMINGO
10h às 20h MáriOswald
Sala Tarsila do Amaral
10h às 20h Antropofagia
Piso Flávio de Carvalho
14h30 Agrupamento Teatral
Sala de Leitura Infantojuvenil
15h Giro pela dança - com: São Paulo Companhia de Dança
Áreas de Convivência
15h30 Mário Cinéfilo: O Rei da vela
Sala Lima Barreto
18h Conferência: Tom Zé traça a conexão entre o modernismo, a tropicália e hoje
Sala Adoniran Barbosa