Marcelo Rubens Paiva
15 de novembro de 2012 | 14h14
Outro dia tuitei: “Brasil é o país do futuro, mas é no Uruguai que o aborto e a maconha são livres.”
Nosso pequeno vizinho, que já foi estado nosso, e depois torrou as contas do reinado de Dom Pedro I numa guerra perdida, levou nosso jovem País à falência- o rei ficou impopular, ao ponto de ter que fugir às pressas disfarçado e deixar o filho “de menor” no comando-, era mais conhecido por derrotar o Brasil na Copa de 1950 e uma praia de beleza duvidosa, fria, com cassinos, que a elite paulistana adora, Punta.
Mas o Uruguai vive um choque de modernidade que contrasta com o continente extremamente católico e conservador.
O projeto de lei que legaliza o cultivo pessoal de maconha no Uruguai começou a ser discutido ontem pelo Congresso uruguaio.
Se aprovado, cada habitante terá o direito de plantar em casa e consumir até 40 gramas da erva por mês, o que dá, dependendo da fissura e da capacidade de enrolar do hermano, uns 15 baseados.
“O Estado assumirá o controle e a regulação sobre as atividades de importação, exportação, plantação, cultivo, colheita, produção, aquisição, armazenamento, comercialização e distribuição da maconha e seus derivados”, diz o Artigo 2.º do projeto.
Porém, já tem gente criticando o monopólio estatal da planta.
Ethan Nadelmann, líder da Drug Policy Alliance (DPA – aliança para uma política em matéria de drogas), disse à AFP: “É muito incomum que um governo esteja envolvido no monopólio da produção de qualquer matéria-prima, em qualquer produto agrícola. Frequentemente isso leva a uma ausência de controle de qualidade ou diversidade”
Nadelmann recomendou ao Uruguai os modelos existentes como os cafés da Holanda, os clubes sociais da Espanha e os dispensários de maconha medicinal nos Estados Unidos, onde a produção e distribuição são de gestão privada.
“A legalização definitivamente ajudará a combater o narcotráfico, porque oferecerá uma fonte alternativa se o governo puder oferecer um bom produto a um preço razoável”, afirmou.
O presidente do Uruguai, José Mujica, assim como nosso ex-presidente, campeão de pôquer de Higienópolis e bródi de maconheiro velho, FHC, argumenta que com a legalização da maconha os crimes associados a ela serão reduzidos e os cartéis, debilitados.
Outros países da América Latina, como México, Guatemala e Costa Rica, analisam as implicações da legalização.
O Uruguai, que está prestes a autorizar a união homoafetiva e já permite o aborto, está na linha de frente das reformas liberais e a nova medida pode influenciar a pauta de todo o continente.
E o país com menos de 4 milhões de habitantes precisa se preparar para uma invasão do cannabis-turismo, enquanto não tivermos a MACONHABRAS.
“Bamos invadir su playa, cabron!”
Será a nova Holanda, aquecerá a economia, num país que produzia picanha, lã e diáspora juvenil. A lembrar: já conhecido como “a Suíça sul-americana”, Uruguai foi o primeiro país a estabelecer por lei o direito ao divórcio (1907) e um dos primeiros países do mundo a estabelecer o direito das mulheres a votar.
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