Estou envelhecendo e provavelmente emburrecendo.
Muitos dos filmes que meus amigos e colegas da imprensa desprezam, eu adoro. Como TED.
Aconteceu de novo.
Agora com OBLIVION, ficção científica genial do diretor especialista em efeitos especiais, oriundo do mercado publicitário e séries de TV, Joseph Kosinski [Tron], que roteirizou o HQ do quadrinista Arvid Nelson.
O filme se passa na Terra em 2077.
O piloto e mecânico Jack Harper [Tom Cruise] é dos poucos que ainda ficaram no planeta, para cuidar dos drones que fazem a seguranças de plataformas gigantescas que sugam toda a água.
Nós, terráqueos, depois de uma guerra devastadora com alienígenas, tivemos de usar nosso aparato nuclear, transformando a vida na Terra impossível. Nos mudamos para uma estação espacial gigantesca, Tet, e nos preparamos para mudar para a lua de Saturno, Titã, o segundo maior satélite do sistema solar. Rebocando a água.
Restam no planeta alguns alienígenas, os Saqueadores, que em vão e numa perdida guerra de guerrilha, dão trabalho e fazem atentados.
Meus amigos escreveram:
Rubens Ewald Filho- "Eu achei tudo meio óbvio, com alguma (mas podia ter mais) ação e truques do gênero (clones e traições) e um final confuso."
Adolfo Bloch do O Globo - "Mas há pastiches e pastiches. Uns, mesmo sofríveis, criam universos através de citações. Outros, ainda que trash, criam paródias que fazer rir e refletir criticamente. Aqui, porém, filmes de primeira grandeza são explorados para estar a serviço de diálogos."
Peter Bradshaw do The Guardian - "Uma ficção científica incrivelmente solene, afetada e pouco original, que combina grandes partes de O Vingador do Futuro, Inteligência Artificial, Planeta dos Macacos, e algumas partes de Top Gun."
Primeiro, filme de ficção científica não precisa estar 100% amarrado ou explicadinho. Porque ninguém acerta o que acontecerá no futuro, nem é um exercício de futurologia. É como arte moderna, uma interpretação do real.
É uma forma de entender o presente, enxergar de longo nossos conflitos, através dos olhos de outros [nossos descendentes]. E refletirmos sobre o que representará no futuro os danos, decisões e erros políticos atuais.
O nome Tet já me acendeu um alerta. Não é o nome da ofensiva que mudou o destino da Guerra do Vietnã?
Estas plataformas de água num território deserto não lembram a extração de outro líquido valioso numa região conturbada e em guerra?
Ocupação e vigilância por drones não remete a outro conflito em andamento?
E, finalmente, atrás dos turbantes do inimigo, não está o verdadeiro dono daquela terra? Quem é de fato o inimigo? Quem é manipulado em lavagens cerebrais, para acreditar que sua guerra é justa? E por que o terraço do Empire States é tão referenciado?
Uma frase do personagem esclarece do que se trata o filme. Depois de ver que sua geringonça, um drone, matou astronautas hibernes, ele descobriu: "Drones matam humanos..."
Sim, drones matam humanos, o inimigo não é quem a gente pensa que é, a tecnologia de guerra se alimenta da própria guerra, da desavença, deturpa a história, manipula informações.
E seres de outra cultura não são alienígenas.
Surpresa atrás de surpresa se monta uma trama complexa, sofisticada.
Existem mais coisas em OBLIVION do que a criticada canastrice de Cruise.
Eu não perderia este filme.