Se teu filho passou a te xingar com uma quantidade surpreendente de palavrões, sim, ele deixou de ver Peppa Pig, que se referia ao pai como "papai levado", e está com os olhos presos pelo YouTube.
O barato dos youtuberloucos é pontuar frases com palavrão, gritar, exagerar, fazer caretas, contestar autoridades, para arrebanhar claques e cliques.
E faturar.
O escândalo em torno de Júlio Cocielo, o digital influencer popular de posts racistas (quem tem mais de 20 anos nunca ouviu falar), acende um alerta.
Ele tem 7,4 milhões de seguidores no Twitter, 11 milhões no Insta e 16 milhões no YouTube e nenhum controle, autocrítica, superego.
É um absoluto sem-noção que não segue um código de ética.
Para nos associarmos no seleto clube dos profissionais de um meio de comunicação, precisávamos de um diploma universitário e cursos profissionalizantes.
Em rádios, jornais, revistas e televisões, editores e subs nos editam, nos aconselham, cortam nossas asas, nos educam.
Nossas palavras passam por revisões.
As empresas com passado têm donos, acionistas, diretores e nome a zelar.
Uma hierarquia rígida estabelece limites do que pode ser publicado: manuais de redação foram escritos; gramáticos contratados circulam nos corredores das redações.
Leitores atentos denunciam, escrevem cartas, e-mails, posts, e somos obrigados a responder.
Algumas empresas têm ombudsman e SACs.
Nas TVs, palavrões davam multas.
Por vezes, somos processados.
Estamos constantemente em julgamento, respondendo pelos nossos erros, em reuniões de pauta, com chefias, almoços, com advogados e nos tribunais.
O YouTube veio para arrebentar a cadeia de comando e liberar geral.
Viva a liberdade de expressão dos influencerirresponsáveis.
Viva tudo! Pode tudo?
Não à toa, ele agride também os próprios meios de comunicação:
Cocielo tinha patrocínio do Itaú, Coca-Cola, Submarino, Adidas e do governo brasileiro, Embratur, para promover o turismo no Brasil.
E uma coleção de grosserias postadas desde 2010, que depõe contra as marcas que já o patrocinaram, como McDonald's, Foster, Gillette, Tic-Tac e outras.
Grosserias que estão sendo apagadas, mas foram salvas por alguns usuários (veja abaixo).
Cocielo está entre as personalidades da rede que mais influenciam os jovens, como Flavia Calina, Felipe Castanhari e Felipe Neto.
Perdeu patrocínios em 1 de julho, quando repercutiu um dos seus comentários racistas, contra o jogador francês Mbappé.
Segundo Meio & Mensagem, as empresas que o patrocinaram se defendem:
O site Submarino repudia veementemente qualquer manifestação racista e tomará as providências necessárias.
Para a Coca-Cola, o respeito à diversidade é um dos principais valores da companhia, em campanhas que celebram as diferenças e promovem a união: "Manifestações preconceituosas não são toleradas. Repudiamos qualquer forma de racismo, machismo, misoginia ou homofobia."
O Itaú repudia toda e qualquer forma de discriminação e preconceito: "Esperamos que o respeito à diversidade sempre prevaleça."
Adidas repudia toda e qualquer tipo de discriminação e decidiu suspender a parceria com Júlio Cocielo".
McDonald´s disse que já realizou ações com Cocielo, mas que a relação já não existe.
Os posts do influenciador são abomináveis e vêm de longa data. Prepare o estômago:
A pergunta é como nenhum patrocinador se ateve a eles, financiando práticas de discursos preconceituosos.
Como o YouTube ou o Twitter deixam isso rolar? E o Ministério Público, sempre atento ao que rola nas TVs? Como conviver com liberdade e ética?
Poucos defendem o (traumático) controle dos meios de comunicação.
Mas até onde vai tamanha indecência?
Em nota, ele se defende: