PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|O senhor Emiliano

Atualização:
FOTO TIAGO QUEIROZ/AE Foto: Estadão

 

Poucos sabiam o nome verdadeiro dele.

Era chamado de Emiliano.

O verdadeiro nome era Carlos Alberto.

Dono do Hotel Emiliano, o mais simpático de São Paulo, morto ontem no avião que caiu em Paraty, que matou Teori Zavascki.

Ele não saía de seus corredores.

Publicidade

Por vezes, empolgado, ele mesmo fazia o check-in do hotel com nome de revolucionário [Emiliano Zapata].

Conversava com todos. Dizia que era de origem muito humilde, "um caipirão", que não entendia nada de hotelaria e que não gostava dos hotéis da cidade, quando tinha que se hospedar nela.

Por isso, construíra o seu.

Há 15 anos.

Por um tempo, foi considerado o melhor hotel da cidade, até a inauguração do Hotel Fasano.

Publicidade

Bons chefes passaram pela sua cozinha.

É uma decoração clean, priorizando o branco, sem luxo aparente, cujo bom gosto está invisível, nos detalhes.

A carta de vinhos foi elaborada por Ed Motta, que passou lá por um tempo e nos recebia em sua suíte.

Meses depois, ele estava de volta, para elaborar a carta de chás.

Dava desconto para gente do cinema e da TV.

Publicidade

Disputava, com Fasano, a honra de ter o baiano mais ilustre do Brasil, Caetano Veloso, hospedado, e a gaúcha mais ilustre do mundo, Gisele Bündchen.

Não sabia que inaugurava um novo tipo de hotelaria: o primeiro hotel-butique de São Paulo.

Como não saía da porta, misturando-se aos funcionários, um desavisado diria que aquele cara, com jeitão humilde, era da segurança.

Ele sabia meu nome, meu currículo, sempre me cumprimentava, me convidava para se hospedar lá, quando eu quisesse relaxar.

Eu era fã de seu restaurante.

Publicidade

Dizem que enriqueceu explorando madeira. Outros, no garimpo de Serra Pelada.

Ele não contava.

Mas dizia, sim, que era um homem muito humilde que não entendia nada de hotéis, até construir o seu.

Figura controversa, por querer construir um hotel numa área sensível de Paraty, era o tipo empreendedor brasileiro, que lembrava um personagem de Janete Clair.

Opinião por Marcelo Rubens Paiva
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.