Queria pedir desculpas pelo promotor imbecil que matou a mulher grávida, pois acreditava que ela estava esperando um filho do amante, o que foi negado pelo exame de DNA pós-mortem. E está foragido, covarde.
Nos desculpem pelo jornalista e chefe infeliz que, depois de alavancar a carreira da garota e levar um fora, deu dois tiros à queima-roupa na recém-contratada e ex-namorada.
Sem o contar o pai estúpido que, depois de bater na filha, decidiu cortar as redes de proteção, jogar o corpo pela janela e ainda forjar um assalto.
Também nos desculpem pelo cretino que foi o primeiro homem da vida de uma adolescente do ABC, levou o pé e, inconformado, manteve ela e a melhor amiga reféns por cinco dias, até enfiar, numa sexta-feira chuvosa, uma bala na amiga e duas na garota que amava, uma na cabeça e outra no abdômen, depois da polícia invadir.
Incluam o monstro que estuprou a enteada de 9 anos e a engravidou. E o imbecil que prendeu a filha num porão por mais de duas décadas, com quem teve 7 filhos. Aqueles que cortam o clitóris das mulheres da aldeia, para elas não sentirem prazer. Ou os que apedrejam em praça pública as ditas adúlteras. E que obrigam as mulheres a se esconderem em burcas e as proíbem de sair sem seus maridos.
Nos perdoem por aqueles que criminalizam o aborto.
Desculpem-nos pelo cretino que bateu na mulher com um extintor, jogou-a fora do carro, sequestrou a filha e um bimotor, sem nunca ter pilotado um avião de verdade, sobrevoou a cidade perigosamente, inclusive o prédio em que moravam, até cair no estacionamento de um shopping, arriscando levar mais gente com ele.
Perdão pelo ciúme doentio, pela incapacidade de aceitar a perda, pela covardia e narcisismo, por aqueles que não sabem ouvir "não", pelo onipotente que acredita ser dono de alguém, pela inabilidade de alguns homens de enxergar as vontades da mulher, inclusive o desejo de partir e romper. Nem todos são como eles idiotas.