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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|O fim do neorrepublicanismo

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Atualização:

Ministro que afirma que índio é latifundiário...

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Ministra que afirma que banheiro trans é local de degeneração sexual...

Ministro que pede que seja lido pelos estudantes o slogan da campanha de Jair Bolsonaro, "Brasil acima de tudo. Deus acima de todos",  para filmarem e enviarem à Secom (Secretaria de Comunicação do governo) e MEC...

Nada mais fazem do que seguir discurso de campanha, de governar para as maiorias, seja lá o que isso significa.

Os garotos que estudam numa escola do parque do Xingu, ou da aldeia guarani em Boraceia, Aldeia do Rio Silveira, a Escola Estadual Indígena Txeru Ba e kua, o maior prédio, que fica na entrada da reserva, terão que saudar "Deus acima de tudo"?

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Não. Ministro já recuou 24 horas depois e admitiu que foi um erro.

O neorrepublicanismo surgiu no começo dos anos 1980, depois da onda de redemocratização que começou nos países europeus (Portugal, Espanha, Grécia), contaminou a América do Sul e Central, desabou o Muro de Berlim e espalhou rapidamente para os países do Leste Europeu

O modelo defende que a República, a união de Estados sob um governo eleito que se renova, vive uma onda neorrepublicana, em que a liberdade como não-dominação, de regimes não-autoritários, parte da participação direta dos cidadãos na vida política.

Ele se inspira na origem da democracia de Atenas: todos participam da vida pública, mantendo a privada, e se submetem às leis que eles mesmos escreveram.

Não por outra, o estágio pós fim da ditadura brasileira, em 1985, foi chamado de Nova República.

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E escreveu na nova Constituição o preâmbulo: "Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos..."

A carta do ministro Ricardo Vélez Rodríguez, que aparentemente ainda está em campanha, desrespeita a massa grande de estudantes que vem de família agnóstica ou outras religiões.

O tema polemizou.

Ficou em primeiro lugar nos assuntos mais comentados do Twitter.

A oposição se manifestou.

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O deputado do PSOL, Marcelo Freixo (RJ), entrou com uma representação contra o MEC, que estaria "totalmente ideologizado, sem rumo ou iniciativas que possam fazer avançar a educação brasileira".

"Depois de chamar os brasileiros de canibais e de ladrões quando viajam, o ministro da Educação, Vélez Rodríguez, comete crimes grosseiros de improbidade administrativa", conclui.

O ex-ministro da Educação petista, Aloizio Mercadante, soltou a nota:

"É completamente ilegal tentar forçar a utilização do slogan do candidato Bolsonaro nas escolas. Igualmente ilegal é tentar se apropriar de imagens de crianças para fins políticos. Tal atitude, além de eticamente inaceitável, fere abertamente o Estatuto das Crianças e dos Adolescentes (ECA), que exige a autorização formal dos pais para a utilização de imagens de crianças para qualquer finalidade."

"Além disso, atenta contra o artigo 37 da Constituição Federal que em seu § 1º  do artigo XXII estabelece: 'a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos'."

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Não foi preciso o vice Hamilton Mourão, o sensato, se manifestar.

O MEC recuou hoje de manhã.

Tirou o slogan e o pedido para filmarem as crianças.

 Foto: Estadão
Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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