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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|O blá blá blá da pauta conservadora

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Atualização:

Enquanto muitos acreditavam que a terceira via seria uma alternativa à velha esquerda, ela se mostra embasada no discurso conservador da velha direita.

Em duas eleições, Argentina e Espanha, o bolsonarismo, discurso homofóbico, politicamente incorreto e saudosista, deu cria.

O papel da mulher e debates de gênero ganham protagonismo: as querem de volta ao lar e recatadas.

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Nas duas eleições, o nome do marqueteiro Steve Bannon (Brexit, Trump e Bolsonaro) vem à tona.

No final das contas, o que interessa é expulsar a velha política do poder, especialmente a esquerda, com uma pauta liberal (economicamente) aliada ao passado.

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Domingo, dia 27 de abril, na Espanha, o partido de extrema-direita, Vox, testa a eficácia do seu discurso patriótico, anti-separatista, contra tudo isso que está aí, aproveita-se da crise econômica dos novos tempos (desemprego na Espanha é de mais de 15%, um dos maiores da Europa) e faz uma campanha baseada no discurso de ódio.

O partido ganha força com um ativismo duvidoso de redes sociais, compara o Partido Socialista (no poder) à Venezuela, defende valores tradicionais da pátria-família, critica o feminismo, é contra aborto, punições a crimes cometidos durante a ditadura de Franco e a favor da liberação de armas para defesa pessoal.

Não parece um repeteco do que acontece no Brasil?

Tem mais. O número 2 do partido é um ex-militar, Javier Ortega. Como se seguisse à risca a cartilha do sucesso de Bolsonaro, defende a prisão enérgica de criminosos, inclusive do líder separatista Carles Puigdemont, exilado entre Alemanha e Bélgica.

Na Argentina, a inspiração é explícita.

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A líder da direita, deputada Cynthia Botton, quer ser, segundo a repórter Patrícia Campos Mello, a "Bolsonara argentina": é contra o aborto (a lei é semelhante à brasileira, liberado apenas em caso risco de morte da mãe, má formação do feto e estupro), ideologia de gênero, equiparação salarial das mulheres, discurso politicamente correto, LGBTs, e a favor da intervenção nas escolas.

Ela já postou fotos em sua rede social se reunindo com Bannon.

Veremos se lá, como aqui, o discurso pega.

De boa, ninguém vai deixar de ser gay, ler filosofia, abortar (ainda que ilegalmente), as mulheres não vão voltar pro fogão, nem pro tanque, as escolas são autônomas, existem leis e supremas cortes para defender direitos individuais. Ganhem eleições com esse blá blá blá. Mas a revolução de costumes não tem volta.

 

Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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