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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|Marighella e Carmo

Enfim, uma homenagem.

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Atualização:

O Memorial da Resistência de São Paulo apresenta a exposição Marighella, em memória aos 40 anos da morte do guerrilheiro comunista, ícone do combate à ditadura militar no Brasil.

Abertura amanhã. Fica até 25 de maio.

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No Largo General Osório, 66 - fone 11/3335 4990

A mostra uniu tucanos e lulistas. É patrocinada pelo GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, PETROBRAS, CESP e SECRETARIA ESPECIAL DOS DIREITOS HUMANOS.

Busca traçar o perfil e a trajetória de vida do baiano Carlos Marighella, morto numa emboscada em 1969, na Alameda Casa Branca, região dos Jardins, organizada pelo temível delegado Paranhos Fleury.

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Ela tem cartas, livros, imagens de arquivo, iconografia variada, depoimentos, além de textos e poemas do próprio Marighella.

A exposição fala da infância na Bahia à guerrilha urbana em São Paulo, em que liderou mais de mil militantes da ALN, organização fundada por ele, e que tinha uma rede enorme de simpatizantes e apoio, e tinha o aval de FIDEL, para organizar a guerra revolucionária no Brasil.

Alguns dirão que não passava de um facínora comunista, que assaltava bancos, para arrecadar fundos para a guerrilha, sequestrava embaixadores e instalou o terror.

Muitas das ações da ALN são questionáveis, como execuções e o notório e bem-sucedido sequestro do embaixador americano- neste caso, consta que Marighella foi contra e só soube depois de a ação estar em andamento.

A ação foi o momento da virada, quando antes a ALN ganhava todas, e uniu a repressão, alimentou a união entre polícia e sociedade civil, que deu na OBAN e depois no DOI/Codi.

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A ALN atuava em grupos táticos semi-independentes. Seguia à risca o MANUAL DO GUERRILHEIRO URBANO, escrito pelo próprio, que se tornou um best seller na EUROPA e foi o manual base das organizações clandestinas de esquerda de lá.

Porém, a ALN nunca conseguir fugir do esquema assalto-expropriações-clandestinidade-vida em aparelhos-medo de denúncias-assaltos.

A direita dirá que teria sido muito pior se Marighella fosse bem-sucedido e instalasse um regime comunista no Brasil.

Porém, um paradoxo: ele lutou em regimes ditatoriais. Uniu estudantes e trabalhadores sob a bandeira da revolução, da UTOPIA. Pegou em armas e recebeu apoio de parte da opinião pública e intelectuais, e se tornou um mártir na luta contra a ditadura.

No mais, alguém tinha que fazer alguma coisa. Combater, fugir ou se calar?

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Não se pode ver Marighella com os olhos de hoje, quando se comemoram os 20 anos da queda do Muro de Berlim. E não se deve ter receio de lê-lo, homenageá-lo e repensar a história desse País, que viveu séculos de instabilidade política e domínio da elite agroindustrial.

Já na Era Vargas ele era perseguido. Foi para a clandestinidade ainda em meados de 1930 e preso. Foi eleito deputado federal pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro) e cassado em 1948. Rachou com o partido, que era contra a luta armada, e tomou o caminho da guerrilha.

Uma das surpresas da mostra é justamente a vitrine de textos inéditos de Marighella. Outro destaque é um vídeo com depoimentos de personalidades como Oscar Niemeyer, Antonio Candido e Armênio Guedes.

A curadoria é do jornalista Vladimir Sacchetta.

Marighella era a composição do brasileiro: filho de um imigrante italiano com uma mulata, descendente de escravos africanos. Estudou no curso de Engenharia da Escola Politécnica de Salvador.

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Em 1936, no Rio de Janeiro, atuou na reorganização do PCB, depois da repressão desencadeada com o levante de novembro de 1935. No mesmo ano, foi preso e torturado. Em São Paulo, durante o período do Estado Novo, foi novamente preso, e desta vez condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional. Permaneceu quase seis anos em Fernando de Noronha (PE) e na Ilha Grande (RJ).

Foi libertado com anistia concedida por Getúlio Vargas. Em 1945, foi eleito deputado federal constituinte pela Bahia. Na década de 60, fora do PCB, criou a ALN (Aliança Libertadora Nacional) e partiu para a luta armada.

Há 40 anos, em 4 de novembro de 1969, foi assassinado em São Paulo. No dia 11 de setembro de 1996, por 5 votos a 2, a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça reconhece a responsabilidade do Estado pelo assassinato de Carlos Marighella

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E não é que o filme CARMO [falo dele mais abaixo], do meu amigo MURILO PASTA, que usou a minha cadeira de rodas manual nas filmagens, a que rodou o mundo e esteve sob mim por quase duas décadas, ganhou o prêmio de PÚBLICO na MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA de SÃO PAULO?

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Foi votado pela audiência o melhor longa do festival.

Quem ainda não viu, CARMO vai ser reprisado pela Mostra SÁBADO (amanhã) às 8 DA NOITE NO CINE BOMBRIL no Conjunto Nacional na Paulista.

Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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