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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|lista de frankfurt tem injustiças mas está digna

 

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Atualização:

É boa a lista de [70] escritores brasileiros que estarão na próxima Feira do Livro de Frankfurt-o Brasil é mais uma vez o país homenageado do evento.

Foi feita pelo crítico literário Manuel da Costa Pinto, Antonio Martinelli, representando o Sesc, e Antonieta Cunha, diretora de Livro, Leitura e Literatura da Fundação Biblioteca Nacional.

Claro que tem injustiças.

CHICO BUARQUE, VERÍSSIMO e MILTON HATOUM ausentes? Assim como os colunistas e autores CONTARDO CALLIGARIS e DRAUZIO VARELLA.

Será que foram consultados e informaram que não tinham agenda?

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FERREIRA GULLAR  e ARIANO SUASSUNA também não toparam?

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A inclusão de PAULO COELHO não precisa ser comentada.

É um "mal necessário" contar com a presença do nosso escritor mais lido, um astro do mercado. Estranho e preconceituoso seria NÃO convidá-lo.

Também nem preciso comentar a ótima presença de LOURENÇO MUTARELLI (SP), BERNARDO CARVALHO (RJ), MARINA COLASANTI (RJ), RUY CASTRO (MG), FERNANDO MORAIS (MG), SÉRGIO SANT'ANNA (RJ), SILVIANO SANTIAGO (MG).

Acertaram em convidar acadêmicos como JOSÉ MIGUEL WISNIK (SP), JOSÉ MURILO DE CARVALHO (MG), LILIA MORITZ SCHWARCZ (SP), TEIXEIRA COELHO (SP) e a musa WALNICE NOGUEIRA GALVÃO (SP).

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Faltaram outros que respingam, como DAVID ARRIGUCCI, MODESTO CARONE, ROBERTO SCHWARZ, rapaziada da Literatura Comparada. E o historiador mais inspirado de todos, LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO.

Faltou NICOLAU SEVCENKO, autor de um dos mais importantes livros de Teoria Literária, LITERATURA COMO MISSÃO.

O historiador bestseller LAURENTINO GOMES, de 1808, 1822, e que em breve lança 1888? Ausente.

Na lista divulgada ontem em Leipzig, há nomes de membros da gloriosa ABL [Academia Brasileira de Letras]: CARLOS HEITOR CONY (RJ), ANA MARIA MACHADO (RJ), JOÃO UBALDO RIBEIRO (BA), NÉLIDA PIÑÓN (RJ) e o já citado ZÉ MURILO.

ADÉLIA PRADO (MG) vai.

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A lista parece ter sido escrita numa conference call entre a ABL e a MERÇA, bar daqui da VILA MADALENA.

A galera [ops] que o frequenta está bem representada: amigos e boêmios DANIEL GALERA (RS), JOCA REINERS TERRON (MT), MARÇAL AQUINO (SP), MARCELINO FREIRE (PE), MICHEL LAUB (RS).

Mas não estão nela ANTÔNIO PRATA, o maior cronista dentre nós, XICO SÁ, mestre dos mestres, o grande e inquieto MÁRIO BOTOLOTTO, nem MARCELO MIRISOLA, nem REINALDO MORAES, autor do melhor livro de ficção publicado no Brasil recentemente, o já clássico PORNOPOPÉIA.

A maior autora contemporânea de literatura juvenil, THALITA REBOUÇAS, não vai.

Entranhíssima é a presença do polêmico e midiático MIGUEL NICOLELIS (SP).

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Mas pra fechar a lista, sim, ele, mais que merecido, o grande e eterno ZIRALDO (MG).

Tá digno.

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Participei de duas FEIRAS DE FRANKFURT.

A primeira em 1988, quando literatura brasileira tinha um só nome no exterior, JORGE AMADO.

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Ficávamos num canto obscuro em busca da atenção que nunca vinha.

Quando a sorte batia, encontrávamos nossos tradutores.

No meu caso, tradutoras, que verteram FELIZ ANO VELHO e BLECAUTE para o alemão [KARIN VON SCHWEDER-SCHREINER e INÉS KOEBEL].

 

 Foto: Estadão

 

Ninguém se interessava pelo Brasil na época. Poucos autores eram traduzidos. Como vira-latas à espera de adoção, nos contentávamos em cruzar com autores que estávamos lendo, como TOM WOLFE, o dândi.

Dá uma olhada na diferença dos nossos calçados.

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Aliás, convenhamos, o autor de A FOGUEIRA DAS VAIDADES é a maior inspiração de JONATHAN FRANZEN e JEFFREY EUGENIDES. Só que eles não tocam no assunto.

 

 Foto: Estadão

 

Na segunda vez foi mais bacana.

Era 1994, poucos anos depois da reunificação.

Qualquer coisa que acontecesse de errado, se o café vinha frio, o trem atrasasse [sim, atrasou uma vez!], punham culpa na reunificação.

Nos encontramos todos em BERLIM, para depois, em dupla, viajarmos de trem fazendo leituras por cidades da Alemanha Ocidental e Oriental.

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Eu e MARILENE FELINTO lemos nossas obras em português para plateias cheias de cidades como HAMBURGO, HANOVER, MUNIQUE, AUSBURG.

OS ESPAÇOS ESTAVAM SEMPRE LOTADOS.

 

 Foto: Estadão

 

Você sabe por que alemães adoram leituras? Depois das guerras, em que o papel fora consumido para aquecimento dos lares, passou a ser comum a reunião para leituras, assim como leituras de livros em rádio. Até hoje é um costume interessante e enriquecedor. Para ambas as partes.

Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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