Marcelo Rubens Paiva
13 de fevereiro de 2019 | 12h06
(redação new york times 1940)
Cena estranha ocorrida na posse de Bolsonaro: jornalistas confinados passam por um corredor de apoiadores do presidente eleito, que vaiam e gritam em coro: “Uatizapi, uatizapi, uatizapi!”
Por outro lado, o jornalismo digital vive um boom exatamente por conta do efeito das redes sociais, território livre das fake news.
Só no 4º Trimestre de 2018, o New York Times ganhou a adesão de 265 mil assinantes digitais.
De 2017 para final de 2018, cresceu 27%. “Efeito Trump”, justificam. No total, somados com o um milhão de assinantes do impresso, eles formam um time de 4,3 milhões de pagantes.
Em 1 de janeiro de 2019, jornalistas experimentaram em Brasília a ira do novo governo e eleitores contra o comportamento da imprensa tradicional, que consideram doutrinadora, fabricante de mentiras, manipuladora.
A rede social WhatsApp seria, então, o espaço para debate democrático, honesto, sem viés ideológico, especialmente sem a foice da esquerda, que, acreditam, domina a mídia, aliada a tudo de ruim que existe, como às Farcs (declarou o mentor da nova direita, Olavo de Carvalho, numa entrevista ao Estadão).
Seria. Podem ter sido vítimas da maior fabricante de fake news de que se tem notícia.
A internet começou como aliada da imprensa.
A prova foi a imediata entrada de grupos de comunicação no business.
UOL nasceu na salinha de banco de dados em processo de digitalização da Folha de S. Paulo numa pareceria com o Grupo Abril.
Mas a imprensa tradicional encolheu depois da Revolução Tecnológica.
Redações diminuíram de tamanho, a digitalização tirou empregos, faliu revistas.
As redes sociais pareciam a pá de cal, como ocorrera no mercado fonográfico, de lojas de discos e locadoras de vídeo, com as TV abertas e, agora, com os canais pagos. Passado. Todos se readaptaram e se renovam.
Se a filha de um amigo informava que queria seguir a carreira de jornalismo e perguntava detalhes, não tínhamos o entusiasmo de antes.
Tudo está mudando. A imprensa também se readapta. Já são mais de 3,3 milhões de assinantes que pagam pelos serviços digitais do NYT.
No mundo atolado pela lama das fake news, o leitor tradicional precisa do selo da imprensa em que confia.
Assim, quando o New York Times anuncia seus balanços trimestrais, todo mercado comemora e respira aliviado.
A receita com publicidade digital superou pelo terceiro ano consecutivo a do papel.
Mais de 120 jornalistas foram contratados em 2018.
Um exército de 1.600 jornalistas movimenta a Nave Mãe, como é conhecida a sede e redação do jornal, no meio de Manhattan.
Sim, jornalismo é uma carreira fascinante. Recomendo.
(inauguração da nova redação do new york times)