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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|Fui ao Radiohead e não me matei

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Atualização:

 

Calma lá, é das minhas bandas favoritas.

Mas posso dar uma de velho chato dos anos 1980 (quando íamos a shows nem tanto para curtir, mas ouvir e criticar)?

Fui ao Radiohead, não me matei, e confesso que no começo me entediei.

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A acústica de arenas é, uma pena, mas é a culpa da Física, pior que a de um campo aberto.

Primeiro, se você não ouvir Radiohead com o som afiadíssimo, bem passado, num local com boa acústica, é melhor nem ouvir.

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Cada um dos músicos, Thom Yorke, Jonny Greenwood (na lista dos maiores guitarristas de rock de todos os tempos), Colin Greenwood, Ed O'Brien e Phil Selway, é independente e parte do todo, como um instrumento fundamental de uma sinfonia.

Ninguém está para fazer apenas a base.

Sem contar que, há nove anos, a banda realizou um dos shows mais inesquecíveis e mágicos da cidade, na Chácara do Jóquei, cercada por neons gigantes, com um repertório recheado de sucessos.

Para o velho chato que nasceu na era do vinil, o som de ontem em São Paulo, que começou pontualmente às 20h, no Allianz Parque, começou embaralhado.

Não se ouvia o contra-baixo de Colin, peça fundamental para o andamento das músicas. A bateria parecia distante. Só pela sexta música, ufa, a mesa de som acertou.

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E, tá, todos os fãs sabem: a banda não entra em onda comercial, não faz concessões, não toca sucessos fáceis, não faz rimas, nem refrões, sem dididi, dadadá, mal interage com a plateia.

É a segunda vez que eles vêm ao Brasil e só aprenderam a falar "obrigado".

Radiohead não é Coldplay, nem nunca quis ser.

Porém... Talvez devesse, sim, na humildade, tocar mais sucessos antigos, que nem são tão antigos (de 15, 20 anos atrás).

Pagamos caro pelo show. Muito caro.

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Na média, a banda vem ao Continente uma vez a cada década.

Creep, como anunciado, ficou de fora (a Satisfaction deles), tocada em 2009. E muitas outras.

Outra constatação.

Os primeiros álbuns, quando ainda se faziam discos conceituais, herança do vinil (e da revolução que começou com Beatles), Pablo Honey, The Bends, OK Computer, Kid A e Amnesiac, são bem superiores aos que vieram nessa década.

Hail to the Thief, de 2003, é uma obra prima (tocaram o hit There There, mas não A Wolf at the Door, que tocaram em 2009).

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Em 2003 foi quando a banda largou a gravadora EMI e partiu para os discos liberados pelo download pague-quanto-pode.

No show de ontem, meou clássicos com novidades mais fracas, que são boas para se ouvir deitado, num gramado, olhando as estrelas; o tempo estava encoberto, assim como o gramado.

Momento em que voltávamos para a bolha, em nossas redes sociais, dos celulares pessoais, algo impensável nove anos antes.

 

Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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