Série na Netflix, os carros mais rápidos já construídos e metade do grid com menos de 25 anos. Muita novidade e rivalidade na pista.
É a fórmula da Liberty Media para reacender o interesse do grande público na Fórmula 1, que viu seus ídolos e lendas se aposentarem ou morrerem.
A McLaren foi a que mais ousou: o carro MCL34 será pilotado por um moleque de 19 anos, Lando Norris.
A Ferrari cedeu um de seus dois cockpits do SF-90 a um garoto de 21 anos, Charles Leclerc. O outro continua com o tetracampeão Sebastain Vettel.
Precisam de corajosos malucos recém-saídos da puberdade para dirigir os foguetes que se transformaram máquinas que literalmente voam por cima de outras, num espetáculo que aproxima a corrida do videogame.
Rivalidade é o mote num esporte em que o que interessa é chegar na frente do inimigo.
Para a nova geração, espírito esportivo é coisa do passado, e, se for preciso, joga-se o carro do adversário para fora. Aliás, como aprenderam assistindo aos filmes históricos das disputas entre Ayrton Senna e Alain Prost.
Netflix abriu sua temporada com a espetacular série em dez episódios, Fórmula 1 - Dirigir Para Viver, que leva técnicas dos grandes filmes e séries de ficção para as pistas.
Câmera lenta, som bem editado, surpresas ao estilo Velozes e Furiosos... E figuras reais que parecem personagens com muitas camadas psicológicas bem construídos por grandes roteiristas.
Os conflitos nos prendem na tela. Ganchos nos fazem adiar a hora de desligar.
A grande sorte dos produtores foi que tanto a Mercedes quanto a Ferrari, principais times da Fórmula 1, recusaram-se a participar.
Ficamos então com o segundo pelotão, em que não faltam histórias e dramas, mas falta ética.
Em cada episódio, uma trama temperada pelo sarcasmo de donos de equipes e arrogância de pilotos que chegam às vias de fato.
Dramas como a do piloto desastrado, Romain Grosjean, que bate em quase todas as corridas, entra num surto psicológico (captado pelos microfones da série) e vira motivo de piada do chefe da própria equipe, Gunther Steiner.
Ou a rivalidade entre os chefões da equipe símbolo da França, Renault, e a única americana, a Hass, o velho versus o mundo novo, colonizador e colonizado, em disputa pelo quarto lugar entre construtores.
Não falta o episódio do escândalo financeiro do bilionário indiano, Vijay Mallya, excêntrico que viu sua companhia aérea falir, Kingfisher, dono da antiga e ótima escuderia Force India.
Ele teve que ficar na Inglaterra para não ser preso durante a temporada 2018. Em seguida, a Force é comprada ainda em 2018 por outro bilionário, o canadense Lawrence Stroll, que a obriga a ceder em 2019 um volante para o filho, pior piloto entre os 20, Lance Stroll
Não falta a disputa entre os dois espanhóis de sangue quente, o veterano Fernando Alonso e o garotão Carlos Sainz.
Assim como os dois da Red Bull, o simpaticão australiano, Daniel Ricciardo, e o emburrado e arrogantezinho, Max Verstappen, que se estranharam nas primeiras corridas, um atropelando literalmente o carro do outro.
Pilotos trocam empurrões, xingam-se. Tudo filmado pela equipe do documentário.
Da Red Bull, veio também o conflito com seu fornecedor de motor, a Renault. A primeira decidiu trocar pela unidade motriz da Honda. A segunda, que também tem uma equipe, e euros que não acabam mais, não se fez de rogada e levou o carismático piloto da outra, Ricciardo.
A Williams, que tantos títulos ganhou, agora gerida pela filha de Frank, teve o pior desempenho da história, chegando em último.
Sauber virou Alfa Romeo de vez e, surpresa, contratou o ex-Ferrari Kimi Raikkonen.
A Hass tem lá como terceiro piloto o brasileirinho Pietro Fittipaldi, neto de Emerson. Se Grosjean continuar pisando na bola, ou beijando o muro...
O que não falta, aliás, é piloto arrogante, maluco, ousado, kamikaze.
Contanto que os carros sejam mesmo seguros, vai ser um "deus nos acuda" com muito "chega pra lá". E emoção redobrada.
Começando neste fim de semana com O Prêmio da Austrália.