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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|Família de Gonzagão protesta contra uso do baião por Bolsonaro

Atualização:

Jair Bolsonaro em campanha para melhorar sua imagem investe em território alheio, o Nordeste, que votou maciçamente contra ele em 2018, utilizando dois símbolos do sertão ao mesmo tempo, o São Francisco e Luiz Gonzaga.

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Música do rei do baião, Riacho do Navio, assim como a sanfona, começa a ser presente na propaganda (lives) daquele que por anos subjugou os nordestinos, ou "paraíbas", como se referia.

Porém, a família de Gonzagão, cujo filho Gonzaguinha foi um militante ferrenho contra a ditadura militar, reagiu.

Gonzaguinha estava no palco do Rio Centro em 1981, no evento que pedia a volta da democracia, quando militares jogaram bombas. Foi ele quem anunciou pelos microfones, para dez mil pessoas: "Pessoas contra a democracia jogaram bombas lá fora para nos amedrontar".

Amora Pêra Gonzaga do Nascimento, Nanan Gonzaga e Daniel Gonzaga, netos de Luiz Gonzaga, soltaram ontem, dia 3 de julho, a nota de repúdio:

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Diante da impotência e da impossibilidade de processo por propaganda indevida, por dupla apropriação, da canção de Luiz Gonzaga e Zé Dantas e do projeto do Rio São Francisco; nós, filhos de Luiz Gonzaga do Nascimento Jr, netos de Luiz Gonzaga, o Gonzagão, apresentamos uma NOTA DE NOJO diante deste governo mortal e suas lives. Governo que faz todos os gestos ao seu alcance para confundir e colocar em risco a população do Brasil, enquanto protege a si mesmo e aos seus.

Não estamos de acordo com o uso da canção Riacho do Navio, nem sua alteração, nem sua execução (com duplo sentido) pelo Senhor Gilson Machado Neto, presidente da Embratur, em transmissão ao vivo pelo Senhor Presidente.

E, AINDA QUE SIMBOLICAMENTE, não autorizamos ao Governo Federal o uso das canções assinadas por nenhum de nossos familiares, ou, ao menos, das respectivas partes que nos cabem.

Sonhamos com o dia em que nosso país volte a ser e a ter respeito e honestidade em relação à sua história, suas injustiças e desequilíbrios.

Sonhamos o dia em que se volte a reconhecer, dentro do país, a importância da Cultura, das artes Brasileiras, e seu imenso legado por gerações, assim como o é em todo o mundo.

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Sonhamos com o dia em que a informação e o conhecimento sejam distribuídos democraticamente à todes, para, apenas recomeçar, sanarmos essa doença que não faz distinção, além da social, como costuma ser na nossa violenta história. E depois, para que o poder e o espaço, em toda instância, possam ser equalizados e distribuídos.

Sonhamos dias sem mortos pela violência do Estado, seja ela direta ou indireta.

Finalmente sonhamos com quando poderemos dançar e cantar abraçados, sem medo, nos bailes de forró e nas tantas festas as quais o Brasil faz e das quais é feito.

Trabalhamos todos os dias por realizar estes sonhos, que não são apenas por nós, mas por todas as gentes deste país.

Por hora, trabalhamos em casa, cumprindo as indicações internacionais da Organização Mundial de Saúde e pedimos que, todos que possam, também o façam.

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Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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