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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|estranhezas da vida

 

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Atualização:

"Eu sempre deixo a mulher insegura. Em todas as relações que tive. Ela sabe, se me enrolar, posso ir atrás de outra."

Esta é mais uma das sabedorias de bar, que ouvi nesta semana.

Detalhe: na mesa, 7 caras. Ligeiramente bêbados.

As mulheres acham que, quando 7 caras se sentam na mesa de um bar, é para se falar de futebol, carros, crise no Oriente Médio, as diferenças entre Dilma e Serra e investimentos financeiros.

Tá bom...

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Estamos falando de mulher. Como elas, que só falam de homem.

Das gostosas que estão ao redor em outras mesas e das que nos atormentam nesta sinfonia difícil de reger chamada "amor".

Rimos de cantadas erradas, de malucas que pegamos, de casos bizarros.

Mas também, como elas, procuramos entender o labiríntico percurso de uma relação amorosa.

E uma máxima sempre volta à mesa.

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Mulher gosta de ser desprezada?

É fato que, se o cara se mostra muito apaixonado, elas perdem o interesse?

É fato que mulher gosta de homem difícil?

Ela quer o apaixonado romântico, ou o durão que impõe seus desejos?

Sim, mulheres adoram o jogo, como na dança do ventre: vou e recuo, dou e não dou, quero e não quero.

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E os homens devem cair nessa?

Quando estamos bêbados, cercados por amigos, contamos vantagens, afirmamos que "comigo não", que tratamos as relações com rédea curta e comando, que somos os donos da razão.

COBRINDO UMA FEIRA ERÓTICA PARA A FOLHA DE S. PAULO:

 Foto: Estadão

 

Mas, na ressaca e na solidão, somos como cantores de bolero, que choram pela incompreensão e amor perdido.

Um fato: quando sumimos, elas se desesperam.

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Mulher é carente e curiosa, quer saber os motivos do desprezo.

A dúvida é se esta tática tem resultado efetivo.

Quando você muito quer, e o outro tem dúvidas, o que fazer, colar ou sumir?

Quem gosta de um ser insistente?

Ou será que, ao insistirmos, o outro se sente seguro e acaba se seduzindo?

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Não adianta, passarei a minha vida em mesas de bar e escutarei sempre a mesma ladainha e lamentos.

Mais fácil entender as origens do Universo.

 

 

+++

 

 

Já fiz de tudo na vida.

Muitas vezes, olho uma foto do passado e me pergunto: Sou eu?!

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Já surfei.

Já desci a Ministro Rocha Azevedo, a mais íngreme ladeira do Jardim, num skate feito em casa, como um suicida.

Já tomei porrada da polícia em passeatas contra a ditadura.

Já devolvi bombas de gás atiradas contra mim.

Já fiz reuniões clandestinas, com uma organização proibida de esquerda, em que, depois, tínhamos que queimar documentos e livros e sair de um em um, olhado para os lados.

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Já corri de moto da polícia, pois eu estava sem carta, pelas ruas dos Jardins.

Já fui ator.

Dei aulas.

Casei.

Cobri para jornais feiras eróticas, rebeliões em presídios, despejo de favelas.

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Já dormi uma noite num abrigo de mendigos para a FOLHA com o saudoso fotógrafo GAUDÉRIO.

Já entrevistei RAY CHARLES, KURT COBAIN, almocei com COURTNEY LOVE e ROBERTA CLOSE.

Já passeei por Havana com GABRIEL GARCIA MARQUEZ.

Gorfei de bêbado nos sapatos do patrão, dono do jornal, que me acudia.

Bati o carro de amigos.

Aliás, capotei na Anchieta com o CORCEL amarelo do meu primo RICARDO.

Ele viajara e me emprestara. Voltei guinchado, consertei o carro e não o avisei.

Quando ele voltou, estava zerinho.

Só 1 ano depois contei.

Caí em motos de amigos.

Quase me afoguei aos 14 anos numa ressaca do Guarujá.

Já fiz viagens para encontrar garotas que me disseram: Você confundiu tudo, somos apenas amigos.

Já entrei em aviões errados e fui parar em Belo Horizonte, quando deveria estar em Brasília.

Já dei noites de autógrafo em que não apareceu ninguém.

Já fui expulso de uma igreja, em que defendi, numa palestra, diante de mais de 500 fieis, a legalização da maconha.

Já joguei WAR com um presidente da República, Lula.

Aliás, já mijamos, lado a lado, num banheiro de um hotel.

E ele me convidava para participar da luta.

Aliás, quando criança, quase mijei na cabeça de outro presidente, FHC, que jogava pôquer com o meu pai no térreo, exatamente em cima do meu quarto, e, no aperto, decidi me aliviar pela janela.

Já toquei para estudantes e em festivais.

 Foto: Estadão

 

Já me perdi dos amigos num Revéillon de COPACABANA. Em que tive uma bad trip de 12 horas, sozinho, pela orla.

Comi bolo de maconha com a ex-mulher, ADRIANA, e fiquei 6 horas agarrado no seu braço, achando que ia morrer.

Passei fome com ela em MOSCOU, no colapso da URSS.

Mas talvez a atividade mais estranha, e com a qual ganhei um bom dinheiro, foi apresentar programas de TV.

Um deles, e vocês, jovens, nem sabem disso, tinha banda, era ao vivo, diário, passava no horário nobre da TV Cultura e, mais estranho ainda, tinha audiência.

Chamava-se FANZINE, um talk show em que discutíamos de tudo.

Encontrei estas fotos de MARISA CAUDURO num site.

 Foto: Estadão
 Foto: Estadão

 

Me olho e pergunto: Sou eu mesmo?!

Sim, com cara lúcida, simpática, inodora, bem de apresentador de TV.

Durante 2 anos e meio, um cadeirante comandou um programa de entrevistas.

Coragem da TV Cultura.

Porém, o fim foi deprimente.

Queriam que eu fosse MAIS alegre, MAIS animador de palco, MAIS Chacrinha, que eu dançasse, vendesse produtos, contasse piadas.

Não deu. Me mandei do Brasil e fui estudar.

Não nasci para ser Faustão.

Melhor deixar a TV para quem tem mais cara-de-pau e contaminar a literatura e a dramaturgia com o meu rebolado:

 Foto: Estadão
Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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