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Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|democracia neles!

Atualização:

 

O movimento Black Bloc é antidemocrático.

Não respeita a opinião discordante, impede a livre movimentação de manifestantes e o livre exercício da imprensa, depreda o patrimônio público e ataca as instituições.

O melhor remédio contra o Black Bloc é a própria democracia

Não precisamos de jornalistas enfurecidos, latindo nos jornais ou telejornais, incitando a violência contra ele.

Nem de Cidade Alerta nem de congêneres.

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Nem de outros jornalistas vingando a morte absurda do colega.

Se é antidemocrático, que os instrumentos que a garantem enquadrem o que é ilegal.

Não é preciso temê-los.

Não ameaçam o Estado de Direito.

É preciso enquadrá-los: democracia neles!

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E se ela não for suficiente, nos resta aprimorá-la.

 

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Domingo, fez 50 anos que morreu Ary Barroso.

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E escrevi em sua homenagem: RIP o "ary-barroquismo" da nossa gente.

Por onde anda o brasileiro inzoneiro, sorridente e feliz?

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"Esse coqueiro que dá coco"? Custa os olhos da cara. "Onde amarro minha rede"? Cuidado com o arrastão, que não é de peixe. "Nas noites claras de luar"? Checou se o alarme está ligado? "Por essas fontes murmurantes onde mato a minha sede"? Racione, pois os reservatórios se encontram abaixo do nível.

Levantamento recente da Rede de Soluções Para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, que avaliou 156 países, indica que o Brasil ocupa a 24ª posição quando o assunto é felicidade da população.

Para a consultoria IMS Health, numa pesquisa encomendada em 2012, o Clonazepam aparece como o oitavo medicamento mais vendido nas farmácias do País; perde para o Neosoro, ícone da descongestão nasal, Ciclo 21 e Microvlar, anticoncepcional campeão absoluto na temporada de 2008, mas desbanca gigantes da automedicação, como Dorflex, Tylenol, Engov, melhor amigo de um boêmio, e o lendário e proustiano Hipoglós, que tem cheirinho de mamãe.

Do Laboratório Roche, o tranquilizante vem em forma de comprimidos e gotas, é indicado isoladamente ou como adjuvante no tratamento das crises epilépticas.

Ansiolítico, ajuda no tratamento de transtornos de ansiedade, distúrbio do pânico com ou sem agorafobia, transtornos de humor e afetivo bipolar, tratamento de mania e depressão maior, como adjuvante de antidepressivos na fase inicial.

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Ainda segundo a bula, é empregado em síndromes psicóticas, tratamento da síndrome das pernas inquietas, da vertigem e sintomas relacionados à perturbação do equilíbrio, náuseas, vômitos, quedas, zumbidos, hipersensibilidade a sons (hiperacusia e hipoacusia), plenitude aural, tratamento da síndrome da boca ardente, e não deve ser usado por pacientes com histórico de sensibilidade aos benzodiazepínicos, insuficiência respiratória ou hepática grave.

Como causa depressão no Sistema Nervoso Central, não é recomendável realizar ocupações perigosas que requerem agilidade mental, operar máquinas ou dirigir veículos, nem o uso concomitante com álcool ou outras drogas.

Clonazepam é o princípio ativo do Rivotril, o tarja-preta mais pop e idolatrado, tranquilizante do grupo dos benzodiazepínicos.

Barato, vendido desde 1960, pode causar dependência.

Por que o brasileiro está precisando dele?

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Não viramos todos epiléticos. Andam em falta plenitude aural e astral.

Adquirimos:

1. Agorafobia (fobia social), especialmente os que dependem de transporte público para ir e vir e ainda costumam cruzar com Black Blocs pelo caminho, negociando a passagem com a PM ou entrando numa agência para fazer operações em caixas eletrônicos.

2. Insônia, para se calcular o prejuízo que tomamos de serviços precários, impostos em cascata e desorganização do Estado.

3. Transtorno de humor, se ficamos parados num congestionamento, num avião que não sai do chão ou numa estrada interrompida por passarelas desabadas.

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4. Zumbido, cercados por buzinas, obras irregulares, pancadões e vizinhos que tretam o tempo todo e não tomam Rivotril, Lexotan, Frontal, Maracugina, água com açúcar, nem chá de camomila.

5. Enjoos e náuseas, quando vemos pelos telejornais máfias do serviço público se esbaldarem com nossos impostos e a tática da polícia contra manifestações populares.

O brasileiro está inquieto e furioso. Odeia.

Muitos odeiam.

Muitos se odeiam no trânsito.

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Muitos odeiam políticos.

Todos odeiam operadoras de celular e TV a cabo, companhias aéreas, servidores públicos, bancos, filas nos bancos, ladrões de bancos, lucros dos bancos, e tem os que odeiam e vandalizam bicicletas patrocinadas por bancos.

O ódio é disseminado por redes sociais, o paraíso de antissociais.

Mas acredito que as pessoas odeiam odiar. Restará às autoridades uma saída: despejar, com o flúor, gotas de Rivotril nos reservatórios de água potável, para recuperarmos a plenitude astral e aural.

Se houver água nos reservatórios.

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Opinião por Marcelo Rubens Paiva
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