Marcelo Rubens Paiva
03 de outubro de 2012 | 00h47
MULHOLLAND DRIVE (Cidade dos Sonhos), de 2001, é um filme que quase ninguém entende.
Dirigido e produzido por David Lynch, causou debates, dividiu opiniões. Uma lista de pistas [clue] para entendê-lo era repassada pela internet.
Só consegui entender o filme na terceira vez que o vi, sozinho e doidão.
Sim, há trechos dele que se parecem com um sonho de uma aspirante a atriz, Diane [Naomi Watts], recém-chegada em HOLLYWOOD.
Que protagoniza uma das cenas mais deslumbrantes, que deveria ser utilizada em escolas de teatro: duas formas opostas de como representar num teste uma mesma fala.
A chave para entendê-lo: na verdade, o real é a menor parte do filme, e o sonho ocupa quase toda a trama.
A ORIGEM, de 2010, de Christopher Nolan, também é um filminho bem intrincado.
Agentes conseguem entrar na mente de outros e roubar segredos guardados até no inconsciente durante o sono.
Invadem sonhos das vítimas e modificam seus projetos pessoais.
Agora é o filme LOOPER – ASSASSINO DO FUTURO, de diretor Rian Johnson, que levanta debates.
Parece inexplicável, mas é até bem amarrado.
Que tal viajar no tempo, encontrar com você mesmo 30 anos depois e, pior, com a missão de matá-lo? Na verdade, parece que esta é a linha dramática, só que o contrário: você viaja no tempo e o reencontra 30 anos mais jovem, com um rifle apontado para você.
Todo mundo aqui é safo o suficiente para saber que se você altera o passado, pode ter problemas lá na frente no futuro. Ou no presente.
JOE (Joseph Gordon-Levitt) está numa decadente cidade americana de 2042, pertence a um grupo de exterminadores treinados e pagos em barras de prata e ouro para matar vítimas enviadas do futuro.
Mas algo o perturba quando se vê na missão de matar a si mesmo 30 anos mais velho (Bruce Wills), que morava na CHINA.
O filme ganha dois narradores.
Um combate e depende do outro.
E protagonizam uma cena em que certamente todos se identificarão: o que você gostaria de dizer para você 30 anos mais jovem, moleque irresponsável que fez esta e aquela bobagem?
Se não entender, cola que te explico.
Se é que entendi.
No mais, descobre-se que alguns vícios do presente permanecem, como a corrupção policial, o desrespeito ao pedestre e o falso romantismo com prostitutas.
A epidemia do crack foi trocada por outra, do colírio alucinógeno.
Parar de fumar ainda é um tormento.
A polícia ainda faz reconhecimento com fotos 3X4 em P&B.
E, o mais surpreendente, o celular super fino, leve e moderno não pega no campo.
Deve ser uma operadora brasileira.
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Enquanto isso, graças a um deputado trapalhão do PC do B, que meteu no bico onde não era chamado, TED se transformou na maior bilheteria do País, deixou para trás RESIDENT EVIL: RETRIBUIÇÃO.
Executivos da UNIVERSAL estão rindo até agora do marketing indireto.
Aliás, bem-feito ao deputado moralista.
No mais, o filme é muito bom.
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