Sai o brasileiro cordial, o povo mais alegre do mundo, entra o cético, desconfiado e irritado (com as diretrizes dos que nos dirigem).
Sob o recorde de impopularidade, a desconfiança eterna de estar lá graças a um golpe, incapaz de emplacar um sucessor, com o dólar a R$ 4, e crescimento do PIB pífio, não poderia restar um legado mais simbólico, o da nossa irritação.
Ninguém dá crédito ao inventor.
Mas, por onde passa, ele causa furor.
Entre os torcedores e especialmente entre os jogadores.
O mascote da Seleção, criado em 2016, mas lançado pela CBF oficialmente apenas em 2018, já foi chamado de Canarinho Bolado e Canarinho Putaço.
O diretor de Marketing da CBF, Gilberto Ratto, preferia Canarinho Enfezado.
Mas o que manda é o gosto popular, e o que ficou foi Canarinho Pistola.
Talvez seja o único legado que deixa um governo de dois anos que não nos levou a lugar nenhum; a não ser a uma reforma trabalhista que mais irrita do que causa alegria.
Claro que a origem do mascote foi o 7 x 1, que revelou a realidade mascarada pelo marketing do esporte brasileiro: gestão ultrapassada, corrupção, lavagem de dinheiro.
Porém, depois em que parte da população se viu, de camisa da mesma CBF, ser manobrada para um movimento que deu poder ao de mais controverso da política nacional, duas vezes indiciado, e de um ministério homem, branco, de mais indiciados e malas de dinheiro, a expressão enfezada do mascote extrapolou as quatro linhas.
Irritação que passou a duvidar do nosso próprio sistema de governo.
Se o Fusca virou símbolo do governo tampão de Itamar, o Pistola faz sombra ao pato da Fiesp e entrou pra nossa iconografia oficial.