Marcelo Rubens Paiva
20 de julho de 2019 | 12h01
A série Da Terra à Lua, cara produção da HBO engavetada, foi ao ar em 1998, no tempo da TV analógica.
O streaming não existia. HBO era chamada de TV a cabo.
Seus 12 episódios vinham em partes. Todos eles são apresentados por um jovem Tom Hanks, produtor-executivo e roteirista de alguns episódios, que fez Apolo 13, na esteira da repercussão de Os Eleitos, filmaço de Philip Kaufman baseado na obra de Tom Wolfe (oito indicações ao Oscar).
A ida à Lua, missão dada por John Kennedy numa histeria espacial, foi dividida em três partes, ou missões: Mercury, Gemini e Apolo.
Na Mercury, apenas um piloto subia e descia ao espaço em questão de horas.
Na Gemini, iam dois, apertados, que chegavam a dormir, fazer passeios fora da espaçonave e experiências como docking.
Na Apolo, o objetivo era pousar na Lua. Iam três astronautas a bordo para a viagem de dias.
“Nós decidimos ir para a Lua, não porque é fácil, mas porque é difícil”, proclamou Kennedy num discurso histórico, sem antes deixar de consultar auxiliares, para se certificar de que a viagem que os russos também programavam e estavam na frente era possível em uma década.
Com 400 mil empregados e orçamento vasto, sim, era possível, disse a recém-fundada NASA.
Toda série é baseada na Missão Apolo.
spoiler abaixo
Descobre-se, acompanhando de uma a uma, que o feito de Neil Armstrong e Buzz Aldrin (no EP06), em 1969, que faz 50 anos hoje, não foi a única repleta de tensão.
Os alarmes dispararam antes do pouso, e o combustível quase acabou quando sobrevoavam uma cratera.
Tudo na missão era novo, não testado no espaço, feito às pressas para se vencer a corrida espacial.
O próprio Armstrong passou por maus bocados (EP01), numa Gemini que não parava de girar.
Em Apolo 1 (EP02), três astronautas morrem ainda na plataforma, testando a comunicação.
Como o módulo lunar não ficava pronto, pularam etapas e, na Apolo 8, deram uma volta na Lua (EP04), sem convicção de que o retorno era possível.
No EP09, o veterano Alan Shepard, o primeiro americano a ir ao espaço, enfrenta maus bocados tentando reconfigurar o computador a bordo, que ameaçava abortar a missão a oito quilômetros da superfície da Lua e 384 mil quilômetros da Terra.
O EP11 faz uma homenagem às mulheres. Dirigido por Sally Field, não é nada condescendente com a posição de recatadas do lar que as colocaram.
Aquelas que ficavam meses sem ver os pais dos seus filhos, que ganhavam míseros US$ 20 mil por ano, não sabiam se estavam vivos ou não, enfrentaram maus bocados não no espaço, mas no dia a dia e na fratura da rotina suburbana.
Algumas se tornaram alcoólatras, mais da metade se divorciou, e teve aquela que se matou.
Talvez seja o melhor episódio da série, já que humaniza as expostas ao público por relações públicas como heroínas coadjuvantes, quando na verdade fraquejavam como qualquer indivíduo e tinham a tarefa duríssima de educar filhos sozinhas e sorrir para as câmeras.
A série estava engavetada, pois foi filmada em 35mm, com técnica superada. Mas foi remasterizada, e a dramaturgia é de primeira.
A data história, 20 de junho, a trouxe de volta dos arquivos. Aproveite, antes que a engavetem novamente.
Ela faturou o Globo de Ouro de 1999 (melhor série) e três Emmy.