Durante o almoço, Rô e eu ouvíamos Yves Montand. Temos grande admiração pelo chansonnier e pelo grande ator.
Como esquecer do intérprete de Les Feuilles Mortes e do ator de Z, de Costa-Gavras?
Contei a Rô uma história.
Ocorreu de, por algum motivo, eu estar em Paris no dia em que Yves Montand morreu. Foi uma comoção nacional. O assunto não saía das rádios e TVs. Se bem me lembro, mandei uma matéria para o jornal falando da emoção da despedida do "garçon de Paris", como o chamavam.
Mas, enfim, a lembrança mais nítida era da capa do Libération, uma foto de alto a baixo de Montand jovem, vestido de negro, e apenas a inscrição, abaixo, do seu nome civil Ivo Livi (ele era italiano de origem), com as datas de nascimento e morte.
Dei uma pesquisada na internet e encontrei a capa, tal como eu a descrevera. Lembro que comprei um exemplar do Libé e trouxe ao Brasil para mostrar ao pessoal do Caderno 2, então editado pelo grande José Onofre. O jornal passou de mão e mão e a turma da diagramação o lambeu, como se fosse cria da casa. Uma obra-prima gráfica.
Fiquei pensando na força desta imagem, que não me sai da cabeça passados quase 30 anos. Como um trabalho bem-feito, realizado com inspiração e amor faz toda a diferença entre o que fica e o que está condenado ao desaparecimento rápido.
É algo para lembrar no nosso dia a dia, às vezes tão apressado, desleixado e conformado com o efêmero.
O que deixaremos na memória dos outros?