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Opinião|Woody Allen e a máquina do mundo

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Os detratores vão dizer que é mais do mesmo. Os fãs respondem: e daí? Se o mesmo é bom, por que não mais um pouquinho dele? E eis aí o novo Woody Allen, Tudo Pode Dar Certo, que pode até não ser tão novo assim, mas é bom demais. As dúvidas e as poucas certezas de Allen estão presentes nesse filme com estreia prometida para sexta. Dúvida quanto ao sentido da vida, a alienação contemporânea, os problemas com o envelhecimento, o mistério das mulheres... e a (pouca) fé de que, se alguma coisa chega a valer a pena, ela tem de ser buscada arduamente. Seja pela arte, seja pelo saber, seja pela amizade ou o sexo. Para Allen, a felicidade possível nunca vem de graça. Felicidade é trabalho. Não é um bem natural.

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É assim para o angustiado Boris (Larry David), intelectual, meia-idade já passada, que vive a destilar sua descrença para amigos em mesa de bar. Onde estamos? Em Manhattan, epicentro da "poética" de Allen, do qual ele tem se distanciado cada vez mais, por razões práticas - facilidades de financiamento. Agora ele está de volta. E Boris é mais um dos seus alter egos. Todo grande artista tem um. Às vezes mais de um, como Fernando Pessoa.

Em todo caso, Boris tem a função de discutir ideias que atormentam o diretor e também, talvez, a de realizar algumas de suas fantasias, em especial em relação a mulheres jovens. Haverá disso na vida de Boris e as soluções encontradas para a trama não deixarão de ser, pelo menos, muito criativas.

Allen é Allen e isso quer dizer que rediscute suas questões desde sempre, no plano do estrito realismo. Usa o bisturi para desvendar o mecanismo do mundo, mas o faz sob ângulos diferentes a cada vez. Um tom mais luminoso no caso de Vicky Cristina Barcelona;  mais soturno, no de O Sonho de Cassandra, mais agudo, no excepcional Match Point. Em Tudo Pode Dar Certo, a luz se mantém acesa.

Alguém pode até dizer que é um filme otimista. Um otimismo do possível, se é que isso existe.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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