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Opinião|Whiplash, a militarização da música

Rapaz decide tornar-se um grande baterista. Para isso, procura a melhor escola de música de Nova York e submete-se a um mestre perfeccionista, violento e sádico. Eis aí o mergulho de Whiplash - em Busca da Perfeição no mundo do jazz.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

O subtítulo brasileiro não está aí por acaso. Andrew Neiman (Miles Teller) é um jovem ambicioso que persegue a perfeição. Para seu azar, ou sorte, depara-se com um professor cujo padrão de exigência nunca é satisfeito - Fletcher (J.K. Simmons). O relacionamento entre ambos é um embate. E, nesse sentido, Whiplash é muito mais um filme sobre a competição do que sobre a música. Embora nele haja muita música e de excelente qualidade, pela estrutura poderia ser uma história de beisebol, basquete ou futebol americano. Daria no mesmo.

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A ideia que ronda a cabeça do diretor Damien Chazelle, em seu segundo longa-metragem, é a de que vale tudo na busca por essa hipotética perfeição. Estímulos, elogios e tapinhas nas costas só atrapalham. A ascensão ao cume só é possível por uma pedagogia da porrada, construída à base de pressão, tabefes para marcar o ritmo, e sangue, fluido que se vê com inusitada frequência e quantidade em obra pretensamente musical.

O que se pode dizer é que a excelência em qualquer arte só se atinge mesmo à custa de imenso sacrifício. Não se sabe como Furtwangler ou Karajan ensaiavam suas orquestras, mas não deviam ser muito mais gentis que o celerado Fletcher. Só que este tem um lado caricato e se esquece de detalhe que por certo não escapava aos maestros. A grande música pode ser resultado de esforço e sacrifício, mas é também fruto de inspiração, delicadeza, sentimento. E inteligência. No caso particular do jazz, aspira a ser, no fundo, uma imensa experiência libertadora.

Toda essa vertente mais sutil e espiritual da música encontra-se ausente do aeróbico Whisplash. No entanto, o duelo entre aluno e professor não deixa de ser empolgante, em especial pela qualidade dos dois atores. A música que se ouve nos ensaios é formidável e, em parte, foi composta especialmente para o filme. Mas é ao som do clássico Caravan, de Duke Ellington, que acontece o melhor momento, quando o duelo enfim se torna duo.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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