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Opinião|Você acredita que um mulherão como Luana Piovani possa ser invisível?

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Atualização:

Pois bem, ela é. Pelo menos no novo filme de Cláudio Torres, que leva justamente esse título, A Mulher Invisível. Luana, no papel de Amanda, seria invisível porque mora na imaginação de um marido abandonado, Pedro (Selton Mello), um desiludido do amor que sonha com a mulher perfeita. O filme conta ainda com Maria Manoella no papel de Vitória, a mulher de carne e osso apaixonada por Pedro, e Carlos (Vladimir Brichta), amigo e colega de trabalho do romântico incurável. Outro destaque do elenco é Fernanda Torres como Lúcia, a realista amiga de Vitória.

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Quando recebe a reportagem do Estado para a entrevista, o diretor Cláudio Torres vai logo dizendo, sem que nada lhe tenha sido perguntado, sobre as razões de fazer uma comédia romântica. Isso, depois de ter obtido sucesso (de crítica, mas não de público) com Redentor, filme ousado, bastante inovador e crítico, mas que levou apenas 230 mil pessoas aos cinemas. "Penso na minha sobrevivência como diretor", diz Cláudio. Ele entende que é preciso encontrar meios para dialogar com o público e um deles seria a comédia romântica inteligente.

Tenta se colocar no nicho que está dando certo atualmente, os filmes de grande público como Se Eu Fosse Você (1 e 2) e O Divã? Cláudio entende que se trata de ciclos, de safras, como os vinhos: "Houve a leva da violência urbana, filmes necessários e alguns extraordinários, como Cidade de Deus e Tropa de Elite. Agora parece ser a vez das comédias. O público, que prestigiou os filmes de violência urbana, gostou também da sua antítese e foi ao cinema. Por isso a resposta das salas é tão encorajadora."

Mas não se trata apenas de grana, viabilidade profissional, nichos de mercado e outros papos econômicos. O diretor precisa também acreditar no que faz. "O tema de A Mulher Invisível é a idealização do ser amado", defende. E acha que ele se desenvolve em outras direções, como a possibilidade da perda da sanidade pela ilusão amorosa e o restabelecimento da saúde através da obra. Isso porque o delirante Pedro, a certa altura, resolve colocar por escrito suas experiências com Amanda e, com o livro, de certa forma, conecta-se de novo ao real. "Ele consegue não cair no vácuo da dor existencial; transforma a dor em produção."

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O elenco talvez seja o melhor trunfo de A Mulher Invisível. Selton Mello está bem como sempre, tem timing cômico, da mesma forma que sua partner, a vistosa e, sim, boa humorista, Luana Piovani. Maria Manoella e Vladimir Brichta compõem o quarteto com competência. O brilho extra vem de Fernandinha Torres, irmã do diretor, talvez a única a colocar certo distanciamento crítico em relação ao enredo, o que eleva um pouco o nível da comédia. Além de ser muito, muito engraçada quando assim o deseja. "Nas sessões-teste o público caía de gargalhada quando a Nanda entrava em cena", diz Cláudio.

Claro, A Mulher Invisível poderia ir mais fundo, ser mais sutil, agudo e mesmo politicamente mais incorreto. Afinal, ironias cáusticas podem muito bem conviver com comédias românticas, como sabia Billy Wilder. Mas acontece que, no Brasil e, para falar a verdade, no mundo todo, o grande público é tido como meio ingênuo, pouco disposto a decodificar sutilezas. Então é preciso ir ao seu encontro e nos termos em que ele deseja. "Vamos estrear no mesmo dia de O Exterminador do Futuro, veja que briga desigual. E, com filmes como A Mulher Invisível estamos construindo o gosto pelo cinema", acredita Cláudio. O modelo, assumido, é o de Daniel Filho: "Se não houver o filme brasileiro de massa, o filme mais profundo também não vai ter como existir. Um depende do outro."

Cláudio Torres já tem três projetos na fila: O Homem do Farol, uma nova comédia romântica; A Sogra, uma comédia de humor negro que deverá ser estrelada por sua mãe, Fernanda Montenegro; e Depois do Fim do Mundo, uma ficção científica, "gênero em que o País não tem tradição", acrescenta ele.

(Caderno 2, 5/6/09)

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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