Vitus (Fabrizio Borsani, depois Teo Gheorguiu) tem todos esses talentos, mas no fundo é apenas um garotinho, com desejos bastante simples. Vive oprimido pelo excesso de expectativas que os pais, em especial a mãe, depositam sobre ele . Tudo o que almeja é um pouco de paz, e de sonho. Na família, apenas o avô tem o equilíbrio suficiente para dar ao menino aquilo que ele necessita.
Como trama paralela, corre uma certa crítica à sociedade contemporânea, cujos valores supremos são o lucro e o sucesso. Sim, sempre iremos encontrar quem os defenda e acuse os críticos de passadistas, "românticos" ou coisa que o valha. Em especial quando a história se ambienta em país tão desenvolvido, com um índice de bem-estar capaz de causar inveja aos vizinhos europeus. Essa trama fala do pai, que trabalha numa grande empresa mal das pernas e vê seu emprego ameaçado por outro executivo ambicioso. Coisa de adultos.
O outro estereótipo que o filme procura desfazer é o que considera essas crianças como seres insuportáveis. Millôr Fernandes dizia que não existe nada mais chato do que criança precoce e velhinho assanhado. O superdotado seria um precoce levado à enésima potência. Mas nem por isso Vitus é um chato. Pelo contrário. Apesar dos seus problemas, parece uma criança adorável. Chato mesmo é o mundo ao seu redor.
O filme não tem nada de mais; mas talvez nada de menos. Murer filma de maneira ok, talvez um tanto limpinha a mais para certo gosto. É um cinema sem erros, mas que também passa ao largo dos acertos, pois estes se fazem sempre em zona de risco, de turbulência. E o que Murer não faz é se arriscar. Tudo é luminoso, higiênico, sem deixar de ser agradável. Bom filme, mas não deixa lá muito resíduo no espectador.
(Caderno 2, 12/3/09)