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Opinião|Vitória 2019: Pacarrete e curtas locais abrem 26ª edição

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Atualização:
Marcélia Cartaxo, Soia Lira e o diretor Allan Deberton apresentam Pacarrete em Vitória Foto: Estadão

 

VITÓRIA

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Depois de alguns anos ausente, estou de volta ao Festival de Cinema de Vitória, no Espírito Santo. Reencontro um evento vivo e dinâmico em sua 26ª edição, com muitas mostras além das tradicionais competições entre longas e curtas-metragens de todas as partes do país. 

Ontem foi dada a largada (como se diz em turfe) com o hiper premiado Pacarrete, de Allan Deberton, com Marcélia Cartaxo no papel-título. Vi o filme pela terceira vez e só posso dizer que ele cresce a cada revisão. Tudo nele - em sua fatura cinematográfica - está no lugar certo, do roteiro à música,  à fotografia e montagem. Mas parece cada vez mais evidente tudo que o filme deve ao elenco - em especial ao trio de mulheres paraibanas - Marcélia e mais Soia Lira e Zezita Mattos. Além disso, é um filme dirigido não apenas pela técnica mas pela emoção. Faz toda a diferença. 

Falando nas mulheres do filme, Marcélia e Soia deram um show no debate, relembrando a infância e juventude em Cajazeiras. Elas nasceram praticamente ao mesmo tempo, com sete meses de diferença, na mesma cidade e cresceram juntas, numa amizade que dura até hoje. Começaram no teatro amador, até conhecerem Luiz Carlos Vasconcellos, do grupo Piolim, que as conduziu ao profissionalismo. São duas figuras iluminadas, que fazem bem à gente, em especial nesta quadra nacional tão difícil. 

Na cerimônia de abertura, cinema lotado no Centro Cultural Sesc Glória, uma velha sala reformada no centro de Vitória. Prefeito (Luciano Rezende) e governadora em exercício (Jaqueline Moraes), numa cerimônia de tom feminista, comandada por duas apresentadoras mulheres, Lica Oliveira e Leticia Persilles. 

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Nas falas, inclusive das autoridades, um suave porém firme tom de resistência no dia em que mais uma vez o presidente da república envergonhava o país, na ONU desta vez. Vai ficando bastante claro o quanto teremos de trabalhar para recuperar o Brasil depois que essa turma da terra arrasada se for. Quanto mais cedo isso acontecer, melhor para todos. Inclusive para os que votaram neles e ainda não se deram conta da dimensão do estrago. 

Na parte cinematográfica, antes de Pacarrete foram apresentados seis curtas locais, alguns deles TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). São carreiras iniciantes e, assim sendo, melhor olhar as potencialidades que possam ter. 

Os curtas foram Minhas Mães, de Gustavo Guilherme da Conceição, Pescadores Urbanos, de Yolanda Faustini, Guri, de Adriano Monteiro, Práticas do Absurdo, de Alexander Buck, Casa de Vó, de André Ehrlich Lucas, e Jardim Secreto, de Shaw Peled. 

Vários desses filmes me chamaram a atenção, por um detalhe ou outro. Minhas Mães pelo resgate de memória através de fotografias. Guri, pelo frescor da história de um garotinho negro que sofre discriminação na escola. Práticas do Absurdo, pela imaginação e efeitos especiais. Casa de Vó pela coragem de mostrar a iniciação sexual adolescente. E Jardim Secreto, pelo tom justo como apresenta um personagem antipático, pelo menos àquela plateia do cinema. 

Cabe uma palavrinha a mais sobre este último filme, documentário sobre um controverso comerciante do centro de Vitória. Ele cultivou, por conta própria, um jardim abandonado pela prefeitura. Povoou-o de animais domésticos, como galinhas e coelhos. Instalou um sistema de vigilância de câmeras para prevenir furtos e violências. É apoiado por parte mais conservadora da região e detratado pelos mais progressistas. Para ele, a segurança está acima de tudo. Para os outros, essa vigilância é uma invasão de privacidade.

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Polarização à brasileira, mais uma vez. 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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