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Opinião|Viagem em Sol Maior

O filme é uma pequena joia. Aimé é uma figura carismática que, ao longo da viagem, vai revelando ao neto (e a nós) pequenas frustrações e alegrias de sua vida.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

Estou fazendo o curso de documentário do Patrício Guzmán e, na aula de ontem, ele exibiu um trecho de Viagem em Sol Maior (Voyage en G Majeur), de Georgi Lavarewski.

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É um filme lindo. Um velho músico, Aimé, projetou durante toda a vida uma viagem ao Marrocos, mas nunca a fez. Agora com 91 anos, é levado pelo neto (o cineasta) para realizar seu desejo. Vai só, porque a mulher detesta viagens.

O filme é uma pequena joia. Aimé é uma figura carismática que, ao longo da viagem, vai revelando ao neto (e a nós) pequenas frustrações e alegrias de sua vida. É o balanço de toda uma longa existência, uma reflexão sobre a vida, a morte, e as inibições que às vezes nos impedem, de maneira misteriosa, fazer o que desejamos ou poderíamos e deveríamos.

Seja este desejo uma simples viagem a um país nem tão distante assim de Paris, que é onde ele mora, seja algo mais complexo, relacionado à profissão. Por exemplo, Aimé se intriga de nunca ter podido pedir ao maestro da orquestra na qual trabalhou durante 40 anos a oportunidade de uma apresentação como solista.

Lamenta também haver vendido seu violino, instrumento que o acompanhou ao longo de toda a carreira. E não ter deixado nada, nem uma pequena obra medíocre, como lembrança de sua passagem pela Terra.

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No entanto, nem de longe a melancolia é o único registro deste filme de 54 minutos. Aimé é um homem refinado, que sabe curtir a vida e as pequenas alegrias que esta pode lhe dar. E tem muito senso de humor.

Enfim, Viagem em Sol Maior é um filme muito simples, mas construído de maneira impecável. Não explica tudo, deixa muitas pausas para respiração e reflexão. (Temos aprendido muito com Guzmán sobre a necessidade dos chamados "tempos mortos" para que o espectador possa respirar e pensar sobre o que está vendo).

Ao chegar em casa, descobri, com alegria, que o filme inteiro está disponível no youtube. É um exercício de sensibilidade, ao acesso de todos. Um refresco para os tempos brutos que estamos vivendo.

http://www.dailymotion.com/video/x471na9

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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