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Opinião|Versalhes é aqui

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Antes mesmo do filme de Sofia Coppola chegar ao Brasil, já se sabia que Maria Antonieta estava entrando na moda. Meses antes da estréia nacional, recebi algumas revistas francesas que davam capa para a rainha austríaca Marie Antoinette, aliás muito pouco querida na terra que a decapitou. Na França, durante o Festival de Cannes, notou-se uma tremenda má vontade para com o filme de Sofia porque se entendeu (de maneira correta, a meu ver) que ele procurava "recuperar" a imagem da rainha tida como perdulária e alérgica a povo. Mas os franceses, sabemos, são meio jacobinos e tudo isso é discussão um pouco velha, inclusive neste blog.

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Acontece que, voltando agora de viagem, tive de fazer aquela tradicional faxina pós-férias. Eram pilhas e pilhas de livros e revistas que haviam chegado ao jornal na minha ausência, cartas (isso ainda existe!), publicidade, fôlders, press releases - enfim, uma papelada indescritível, uma floresta amazônica de celulose desperdiçado. No meio dessa mixórdia, um exemplar da ultra-chique revista Wish Report com, adivinhem quem na capa? Ela mesma: Maria Antonieta, um ensaio fotográfico no qual é "interpretada" pela top model russa Eugenia K. e clicada pelo art-photographer Paulo Greuel nos tons do retrato "Barbie", de Andy Warhol.

O ensaio fotográfico é dos mais interessantes. Mereceria a contrapartida de um ensaio interpretativo mas esse temos de realizar por nossa conta, pois não é bem a linha da revista. A bela russa, no papel da rainha, é clicada entre objetos suntuosos. Como a revista Wish Report tem por objetivo demonstrar que luxo faz bem e não deve trazer culpa ao usuário, uma caneta nunca é menos que uma Montblanc lavrada em ouro; uma jóia deve ser proveniente da Tiffany & Co.; nenhuma bolsa é menos que uma Louis Vuitton. E assim por diante. Por fúteis que pareçam essas páginas de papel couché, deve-se reconhecer que, quem as bolou, pegou perfeitamente o espírito do filme de Sofia Coppola, apesar da indulgência de parte da crítica. Versalhes é aqui mesmo.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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