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Opinião|Veronika Decide Morrer: é Paulo Coelho na fita

Veronika Decide Morrer é a primeira adaptação de um livro de Paulo Coelho para o cinema. Outras virão. Dito isso, a primeira disposição de quem vai assistir a um trabalho como este é tentar esquecer a sua origem literária. Tentar vê-lo apenas como filme e não como versão para a tela de uma obra, digamos, "polêmica", como são as do autor. Mesmo porque, como dizia Hitchcock, é até melhor levar para a tela um livro menor do que uma obra literária consagrada. Mas é pena que o filme não deixe, em momento algum, de nos lembrar de seu selo de origem. De certa forma, não deixa de ser uma versão bastante fiel do livro. Capta seu espírito, sua inspiração e mesmo seu estilo. E isso não é exatamente um elogio.

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

A heroína Veronika (Sarah Michelle Gellar) não suporta mais o tédio da vida contemporânea e decide se matar com uma superdose de soporíferos. Socorrida a tempo, acorda numa clínica psiquiátrica e o médico lhe faz uma triste comunicação. Ela se salvou, mas ficou com o coração danificado por um aneurisma e tem pouco tempo de vida.

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Veja que situação potencialmente interessante. A pessoa está cansada de tudo e deseja a morte. Ou pensa que é assim. Não consegue se matar mas, ao acordar, recebe uma sentença de morte. Em tese, era isso mesmo o que desejava. Mas será que queremos morrer ou uma tentativa de suicídio pode ser apenas um pedido de socorro? Passamos a valorizar mais a vida diante do fim iminente? São questões de fundo, que poderiam entrar como uma luva em história como essa.

É pena, no entanto, que a diretora Emily Young use um tom artificial demais para conduzir seu filme. Nunca se acredita em nada. Nem no desespero da personagem principal, nem no médico, nem nos personagens secundários. Nada se aprofunda, ninguém tem nuances, as contradições expostas são limadas em troca de uma mensagem de autoajuda que precisa ficar explícita para ser eficaz - ou assim parece pensar a realizadora.

Também em nome da autoajuda não é possível levar até o fim o pressuposto da própria história, pois dessa maneira haveria um desfecho dramático. E, como se sabe, baixo astral não combina com mensagens artificiais de esperança, mesmo quando essas não se sustentam em qualquer dado de realidade. Dessa maneira a história é manipulada e triturada, batida no liquidificador até virar aquela boa nova pastosa e informe que se anuncia desde o começo do filme.

Como não se trabalha com esse tipo de perspectiva impunemente, todo o resto vem em consequência. Note o estilo de filmagem e verá cenas saídas de uma mensagem publicitária. Com a diferença que a publicidade atual trabalha muito com a graça e um filme como esse não tem qualquer senso de humor. Pelo contrário, leva-se a sério o tempo todo, o que é mais um dos seus problemas. Para completar, a atriz Sarah Michelle Gellar, notabilizada pela série Buffy, a Caça-Vampiros, tem atuação fria, como se não acreditasse em uma vírgula daquilo que declama em cena. Pensando bem, como culpá-la?

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(Caderno 2, 21/8/09)

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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