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Cinema, cultura & afins

Opinião|Veneza 2013: a utopia de Amos Gitai

 

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Com Ana Arabia, o israelense Amos Gitai se defronta com sua obsessão: a convivência entre árabes e judeus no Oriente Médio. O filme é profundamente humano e um belo exercício de linguagem cinematográfica, feito num único plano-sequência. Quer dizer, não existem cortes, e tudo o que se vê é em tempo real. Da chegada de uma jovem repórter a uma espécie de vila meio precária, situada entre Haifa e Tel-aviv, até sua partida, transcorrem 84 minutos. Tempo suficiente para que a moça ouça histórias de vários personagens, homens e mulheres, velhos e moços, árabes e judeus, que falam de suas vidas e do que fazem lá.

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"A opção pelo plano-sequência único não foi um capricho de diretor. Eu simplesmente não queria interromper o fluxo narrativo entre os personagens porque essa é a essência do projeto", conta. Gitai é um dos raros cineastas contemporâneos a terem consciência da sua ferramenta de trabalho e de como escolhas estéticas implicam decisões de conteúdo. "O uso do plano sem cortes foi essencialmente político", acredita.

Sobre sua utopia de uma convivência entre povos de culturas diferentes e de ódios muito arraigados, Gitai responde que a realidade no Oriente Médio é assim mesmo. "Você vai a um hospital e pode ser atendido por um médico palestino. A convivência existe na prática, mas é sabotada por uma intolerância gerada pela ideologia. Onde encontramos de forma melhor essa sabedoria sobre o viver junto? Entre as pessoas mais simples. Foi o que quis retratar no meu filme."

Numa ficção que se parece muito a um documentário, Gitai não promove qualquer discurso sobre a convivência. Limita-se a registrá-la em ato. Entre os sete personagens principais, entrevistados pela repórter interpretada por Yuval Scharf, com as histórias mais variadas, de guerras, sofrimentos pessoais e políticos, emerge a ideia de que as pessoas aprendem a anular diferenças e fanatismos e fundar um meio comum como forma de convivência. Não são as ideologias que fornecem essa sabedoria, mas as próprias necessidades da vida a ensinam. Como dizia o nosso Guimarães Rosa, o sapo não pula por boniteza, mas por precisão.

Ana Arabia faz parte da seleção da Mostra de Cinema de São Paulo, que acontece em outubro.

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Desta vez a deusa hollywoodiana Scarlett Johansson, corpo perfeito, rosto de criança e tida como dona da voz mais sensual do cinema, encarna, simplesmente, uma alienígena. Em Under the Skin, morena, cheia de curvas e de perigo, usa seu corpo como isca para homens dos quais se nutre. A direção é do inglês Jonathan Glazer, uma carreira inteira feita no videoclipe, mas não um estreante em cinema. Já tem alguns filmes na carreira, como Sexy Beast e Birth. Ok, mas, o visual, o artificialismo com que adapta o livro do holandês Michel Faber, são exasperantes. Debaixo da Pele (Under the Skin) é daqueles filmes que terminam e você se pergunta: e daí?

Já andaram comentando que o público de Veneza está particularmente generoso este ano. Mas nem ele teve paciência com Under the Skin - vaiou sem piedade no final.

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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