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Opinião|Uma outra globalização

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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O documentário de Silvio Tendler, Encontro com Milton Santos - ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá, foi aplaudido em pé pela platéia do Cine Brasília. O filme põe na tela as idéias do geógrafo, em especial aquelas expressas no livro Uma Outra Globalização. Milton Santos não quer que a humanidade dê um passo atrás - sabe que o processo de globalização é inevitável e irreversível. O que não parece inevitável, segundo ele, é que esse processo seja colocado apenas a serviço dos países ricos, em detrimento das nações pobres do planeta.

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Segundo a ideologia neoliberal, a globalização econômica é um processo neutro como a lei da gravidade, que em tese beneficiaria a todos. Para seus críticos, Milton Santos entre eles, trata-se de uma nova face do colonialismo econômico, pelo menos da maneira como existe hoje em dia.Ou seja, produtor de desigualdades.

O filme mostra movimentos sociais pelos diversos países, da América Latina e do mundo, que se opõem ao novo capitalismo global. Coloca dados em cena, revela como as críticas ao modelo contemporâneo podem vir mesmo de pensadores originários do centro do sistema, dos Estados Unidos. E tenta ilustrar a tese central de Milton Santos, a de que se podem usar os próprios trunfos da globalização, como a ligação mundial pela internet, para alterar os seus rumos em favor das nações periféricas. "Até agora não existia de fato uma 'humanidade' no sentido mais rigoroso do termo. Estamos a caminho de construí-la", é uma das suas frases em entrevista dada a Tendler cinco meses antes de morrer.

Santos pensa que, pela primeira vez na história, estamos a caminho da aldeia global pensada por MacLuhan. Falta colocar-se politicamente para que esse contato imediato de todos os países e pessoas seja posto a favor também de todos e não apenas das nações mais poderosas do planeta. Esse é o desafio da nova globalização, tão bem exposto por este belo filme de Silvio Tendler. Não se trata de utopia nem mesmo de desvairio romântico. Trata-se de luta política mesmo, de correlação de forças e da consciência de que ninguém cede espaço de livre e espontânea vontade. Essa índole tão lúcida como combativa de Milton Santos é que foi aplaudida em pé pelo público de Brasília.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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