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Cinema, cultura & afins

Opinião|Uma lista pessoal: meus 10 melhores filmes estrangeiros de 2017

A seleção abre com o poético 'Paterson', de Jim Jarmusch, e fecha com o grande espetáculo de 'Dunkirk', de Christopher Nolan. Nos próximos anos teremos de debater a inclusão de séries na lista de melhores filmes, como fez os Cahiers du Cinéma com 'Twin Peaks'?

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 Foto: Estadão

Paterson, de Jim Jarmusch (EUA). Motorista de ônibus (Adam Driver) em uma cidade pequena escreve poesias nas horas vagas. Minimalismo poético de máximo impacto, no filme mais delicado do ano. Inútil dizer que precisamos de delicadeza como de ar para respirar. Num ano difícil, Jarmusch nos deu um pouco de oxigênio.

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Na Praia à Noite Sozinha, de Hong Sang-soo (Coreia do Sul). Uma atriz (Kim Min-Hee) tem a vida íntima exposta após relacionamento com um diretor de cinema. Vai viver na Alemanha e, após um tempo, volta a seu país. As angústias, contradições e incertezas emergem em longas conversas com amigos, à maneira de uma nouvelle vague oriental. O desfecho é uma pequena epifania.

A Garota Desconhecida, dos irmãos Dardenne (Bélgica). Jovem médica (Adèle Haenel) deixa de atender uma consulta e uma mulher é assassinada. Os Dardenne em plena forma em um conflito moral que se dá num contexto de desumanização social. Jenny (Haenel), dedicada e com peso de consciência é um dos grandes personagens dos irmãos belgas.

Eu, Daniel Blake, de Ken Loach (GBR). Fiel à sua linha de cinema humanista e (portanto) anticapitalista, o britânico Loach mostra um trabalhador britânico às voltas com as dificuldades kafkianas da assistência social. A dignidade dos excluídos está sempre no foco de Loach, com seu cinema direto, despojado mas nunca carente de inspiração.

Corpo e Alma, de Ildikó Enyedi (Hungria). Um dos filmes mais originais do ano, vencedor do Urso de Ouro em Berlim. Mostra o difícil relacionamento entre uma mulher travada e um homem traumatizado. Ambos trabalham num matadouro, locação que metaforiza a condição humana contemporânea. A história é adensada por várias camadas de significação e surpreende o espectador a cada passo.

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A Mulher que se Foi, de Lav Diaz (Filipinas). Mulher passa 30 anos presa injustamente. Libertada, tenta refazer a vida interrompida e vai em busca do filho. Reencontra seu país, devastado pela violência e pela corrupção. Duro drama social de Diaz.

Últimos Dias em Havana, de Fernando Perez (Cuba). O relacionamento de dois amigos, um que está morrendo de Aids, outro que sonha emigrar para os Estados Unidos. Tom afetuoso e desesperançado deste que é o maior diretor cubano contemporâneo.

Corra!, de Jordan Peele (EUA). Cinema black norte-americano dialoga com o gênero terror para colocar o dedo na ferida do racismo. Jovem negro visita a família liberal de sua namorada branca e é surpreendido por uma série de acontecimentos estranhos. Inquietante. Super bem filmado.

Toni Erdmann, de Maren Ade (Alemanha). Pai brincalhão tenta reconquistar o afeto da filha, demasiado séria e competitiva. Comédia muito original, que toca na disfuncional normalidade contemporânea e a contesta pela via do riso.

Dunkirk, de Christopher Nolan (EUA). Cinema de grande espetáculo, recria de maneira impressionante um episódio da 2ª Guerra Mundial, a evacuação de soldados britânicos da praia de Dunquerque. Lacônico, Nolan dá uma versão emocionante ao heroísmo britânico no episódio das pequenas embarcações convocadas para resgatar os soldados cercados pelos nazistas.

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Nota sobre Twin Peaks. A (ainda) prestigiosa revista Cahiers du Cinéma elegeu a terceira temporada de Twin Peaks como "o filme do ano".

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Há certa provocação nisso, mas não vazia de conteúdo. No momento em que se discute a posição das séries no universo audiovisual, os Cahiers escolhem uma delas para alçá-la ao topo de sua lista. A escolha tem repercutido no mundo todo, prova de que, embora insultada e esnobada por alguns críticos, a velha revista francesa, fundada por André Bazin nos anos 1950, ainda mantém posição de prestígio no mundo da crítica.

Os Cahiers gostaram tanto de Twin Peaks que dedicaram muitas páginas à série de David Lynch. E lhe reservaram nada menos que duas capas este ano. Numa delas, tentam "explicar" a intricada trama da história, nascida lá atrás com o mistério da morte de Laura Palmer. A outra refere-se a uma entrevista com Lynch.

Cabe lembrar que séries de prestígio não chegam a ser novidade. Berlim Alexanderplatz, de Rainer Fassbinder, tem cerca de 16 horas de duração divididas em episódios. Decálogo, de Krzystof Kieslowski, foi produzida para a TV polonesa. Dois desses dez episódios em duração padrão para TV (cerca de 52 minutos) foram reformatados como longas-metragens e tiveram grande sucesso no meio cult do cinema de autor: Não Amarás e Não Matarás.

 

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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