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Opinião|Uma lágrima por Ruth de Souza (1921-2019)

Atriz morreu hoje aos 98 anos e teve grande carreira no teatro, na TV e no cinema, no qual fez papeis marcantes em Assalto ao Trem Pagador e Filhas do Vento

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

 

Em 'Filhas do Vento', de Joel Zito Araújo Foto: Estadão

Ruth de Souza queixava-se em entrevistas de que às atrizes negras estavam reservados sempre papéis subalternos. O racismo estrutural brasileiro comandava essa escolha - as brancas eram as sinhazinhas, patroas, mulheres de sucesso, as negras eram escravas, empregadas domésticas ou mulheres da vida. Ela viveu sendo vítima e driblando esses clichês. Com seu talento, construiu uma carreira completa - no teatro, no cinema e na TV. Tornou-se uma diva da nossa dramaturgia, uma grande dama do cinema. 

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Pouco a segui em teatro ou TV. No entanto, alguns momentos de Ruth fazem parte do meu imaginário cinematográfico. O primeiro como Judith, a amante do bandido Tião Medonho no clássico policial brasileiro Assalto ao Trem Pagador, de Roberto Farias. O segundo em Filhas do Vento, como Maria Aparecida, contracenando com Léa Garcia e grande elenco, e levando para casa um Kikito no Festival de Gramado. Aliás, ela trabalhou com Joel Zito em dois outros filmes do cineasta, Eu, Mulher Negra (1994) e A Negação do Brasil (2000). 

Ruth teve uma carreira extensa no cinema, que começou em 1948, com passagens por filmes como Terra é Sempre Terra, Ravina, Gimba, A Morte Comanda o Cangaço, Jubiabá e Um Copo de Cólera, entre outros. Trazia para os papéis, mesmo quando pequenos, toda uma técnica refinada, aprendida lá atrás quando foi ligada ao Teatro Experimental do Negro, de Abdias Nascimento. 

A atriz nos deixou hoje, aos 98 anos. Ficará para sempre, impressa na memória de celuloide que o cinema nos lega. 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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