Mas, além disso, o Brasil, em boa parte do tempo, mostrou que pode controlar um jogo que lhe é favorável. Isso é bom sinal. O porém (sempre há um porém, lembrava o dramaturgo Plinio Marcos) é que a seleção acabou caindo na catimba e no jogo violento proposto pela Costa do Marfim. É uma antiga deficiência nossa. E que será posta à prova nesta Copa quando nos defrontarmos com seleções também catimbeiras, eventualmente violentas, e que tenham melhor futebol que o da Costa do Marfim. As coisas então podem ficar feias. Faltou maturidade a Dunga para enxergar que era hora de tirar Kaká de campo, para evitar que fosse expulso, ou saísse machucado de algum lance violento. O desfecho, que tira Kaká do jogo contra Portugal, pode servir de lição ao técnico.
Coletivamente a seleção foi bem e alguns jogadores tiveram atuação individual melhor, como foram os casos de Luís Fabiano e do próprio Kaká. A defesa esteve segura, como de hábito, mas não pode se dar ao luxo de apagões como o que redundou no gol de Drogba. O lance todo foi consequência de um estado de instabilidade causado pelas circunstâncias do jogo, com as discussões entre jogadores, as entradas duras, etc. O Brasil perdeu o foco. Quando perdeu o foco, tomou o gol.
Tudo tem de servir de aprendizado. Costuma-se dizer que vitórias não oferecem material para reflexão. Comemora-se e é só. Esses 3 a 1 devem, de fato, ser comemorados. Mas é bom que também se aprenda com os erros vistos em campo, o principal dos quais foi essa perda de foco quando dominava amplamente a partida. Por enquanto os erros são tolerados. Na segunda fase, na qual o Brasil já está, qualquer vacilo pode significar o fim. E é bom lembrar que podemos nos encontrar com a Espanha logo nas oitavas-de-final. Melhor então estarmos bem preparados e serenos. Porque daqui para a frente não será fácil.
(Caderno da Copa 2010, 21/6/10)