O centro do filme é uma longa entrevista com o lutador, entremeada de material de arquivo - das principais lutas e de algumas passagens inglórias da sua biografia: as brigas com a primeira mulher, a acusação de estupro que lhe custou três anos de prisão. Algumas raras cenas familiares: por exemplo, quando encena uma luta com a filhinha e vai a nocaute.
Uma figura domina o imaginário do lutador - a do seu mentor Cus D'Amato, que o tirou das ruas quando era garoto e o transformou em vencedor. D'Amato é uma figura lendária do boxe americano e foi imortalizada por um texto famoso de Norman Mailer. Seu método era fazer com que o lutador respeitasse o próprio medo. O medo ensina e, quando sob controle, torna-se o maior aliado do pugilista, acreditava. D'Amato morreu sem ver seu pupilo transformar-se em campeão do mundo. "Perdi a minha referência", confessa Tyson.
E assim, por paradoxo, o documentário torna-se um ensaio sobre a fraqueza do homem forte. Menino de rua, marginal, sem pai, mãe prostituta, criado em reformatórios, Tyson teve carreira meteórica. Era mais baixo e mais leve que a maioria dos pesos-pesados. Mas, imensamente forte e rápido. Além disso, assistia obsessivamente a filmes com lutas dos grandes pugilistas, de Joe Louis a Muhammad Ali. Assimilou muito do que viu e, durante um período, tornou-se imbatível. Perdeu para si mesmo, para a vida promíscua, as drogas, o álcool, o próprio ego, órfão da figura paterna de D'Amato. O filme é a história dessa tragédia pessoal.