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Cinema, cultura & afins

Opinião|Sueño Florianópolis: Brasil e Argentina para além da rivalidade

Coprodução entre os dois países, o filme dirigido por Ana Katz mostra-se capaz de ironizar e relativizar os clichês que às vezes separam os dois países vizinhos

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:
 Foto: Estadão

 

Como as boas comédias italianas dos anos 1960 e 1970, esta coprodução Brasil-Argentina também tem um retrogosto um tanto amargo. Vem daí, em parte, seu encanto. Passa do clima divertido e observacional entre duas culturas - a brasileira e a argentina - e aborda questões mais espinhosas, como o desencanto amoroso, as incertezas da meia-idade, a relação com filhos adolescentes, o envelhecimento. Dá muito mais do que aparentemente promete.

A história de Sueño Florianópolis é a de um casal argentino, Pedro (Gustavo Garzón) e Lucrécia (Mercedes Morán), que está se separando mas, civilizados, viajam em férias com os filhos adolescentes para Florianópolis. Ambos são psicanalistas e encucados. Conhecem o cabeça fresca Marco (Marco Ricca), de quem alugam uma casa. E são apresentados também à ex-mulher de Marco, Larissa (Andréa Beltrão).

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A Florianópolis proposta pela filme da diretora Ana Katz parece uma utopia libertária saída diretamente dos anos 1960 e 1970. Banhos de mar, namoros, festas e alegria fazem o cotidiano das pessoas e dos turistas que por lá aportam, incluindo a "pareja" argentina de psicanalistas. O tempo histórico é o dos anos 1990, quando o câmbio favorável trazia legiões de hermanos ao país, em especial às praias de Santa Catarina. 

O filme lida bem com os clichês (argentinos intelectualizados, brasileiros folgazões) abordando-os com ironia. Ou seja, com senso crítico. O tom é naturalista e o elenco, ótimo, quatro atores adultos que contracenam como músicos de um quarteto de cordas. Têm papeis quase equivalentes em importância, mas talvez haja um pequeno destaque para esta extraordinária Mercedes Morán. De resto, é um filme de alma feminista, em que a cumplicidade feminina resiste, mesmo entre supostas rivais.

Deve-se acrescentar que esta é uma co-produção de verdade, um cross over cultural e não um desses produtos híbridos e sem identidade que andam por aí. Sueño Florianópolis tem elenco misto, compara e atrita culturas, fala os dois idiomas, e mais o portunhol intermediário em que brasileiros e hispano-falantes nos comunicamos mundo afora

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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