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Opinião|'Sr. Kaplan', um Quixote uruguaio

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
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No tom minimalista típico do cinema uruguaio, Sr. Kaplan é uma comédia com humor suave e cheia de repercussões de outra ordem. Em sua trama aparentemente simples, fala de coisas sérias como o vazio que pode acometer as pessoas de terceira idade, os preconceitos embutidos na sociedade, etc. É um belo filme, este dirigido por Álvaro Brechner a partir do romance El Salmo de Kaplan, de Marco Schwartz. Como se vê pelos sobrenomes envolvidos, temos aqui um típico exercício de humor judaico, autocrítico, agudo, inteligente e que pede alguma coisa ao interlocutor para se realizar plenamente.

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Jacobo Kaplan (Hector Noguera) é um senhor de 76 anos, entediado com a velhice. Mais aborrecido ainda fica quando o médico comunica à família que  já não pode dirigir seu automóvel. Ele não sabe ainda, mas está tirando sua sorte grande, pois a família contrata um amigo da família, o ex-policial Wilson Contreras (Néstor Guzzini) para dirigir o carro. E levar o Sr. Kaplan para os passeios que quiser.

Muito da graça do filme se baseia na clássica formação da dupla assimétrica. Kaplan é magro, rígido e teimoso. Contreras, gordinho, malandro e beberrão. Ambos estão insatisfeitos. Kaplan com a aposentadoria, Contreras porque ficou desempregado e a mulher o deixou, junto com os filhos. Ambos se metem numa aventura improvável, como se fossem a dupla O Gordo e o Magro. Ou, melhor, Dom Quixote e Sancho Pança, provável inspiração da história.

Quais são os moinhos de vento de Kaplan? Resumem-se a um suposto ex-oficial nazista, que vive incógnito numa praia distante e deve ser preso e deportado para Israel, assim como foi feito com Eichmann. Kaplan acha que desse modo cumpriria a missão de sua vida.

Medo da morte, desejo de deixar a marca no mundo, relação entre gerações diferentes, obsessões históricas - tudo isso passa pela trama simples e aventureira de Sr. Kaplan. Uma comédia da qual se ri com o canto da boca, um pequeno brinde à inteligência do espectador.

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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