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Cinema, cultura & afins

Opinião|Somos Tão Jovens

Há filmes sobre o rock. E existem filmes de alma rock. É este o caso de Somos Tão Jovens, de Antonio Carlos da Fontoura sobre a trajetória de Renato Russo. É um filme que, de forma deliberada, toma caminho diferente de Cazuza, de Walter Carvalho e Sandra Werneck: "Não quis fazer um filme sobre um ídolo pop morrendo de aids", disse Fontoura. Ou seja, optou por mostrar o jovem talento em seus verdes anos, no auge, lutando pela fama e a encontrando. É um trabalho para cima, um recorte biográfico positivo e, à sua maneira, encantador.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

O que não significa ausência de conflitos. Pelo contrário. Pode-se dizer que a vida de Renato Russo foi toda construída pela fricção e pelos conflitos. Apenas o filme opta por mostrá-lo nas fases da vida em que ele se encontrava apto a enfrentá-los. Foca, então na fase de construção do ídolo, uma espécie de retrato do artista quando jovem. Quando estudante, dando aulas de inglês, curtindo sua turma em Brasília e tentando formar a banda. Da criação da banda Aborto Elétrico à Legião Urbana, que lhe deu a fama com músicas como Geração Coca-Cola e Que País É Este.

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Claro que Somos Tão Jovens é destinado aos fãs. Mas não apenas. Tem um tom, uma honestidade e uma vitalidade que abrem a vida de Renato mesmo para os de gerações diferentes e até para quem não curte muito a sua música. Aliás, pelo filme, se descobre uma coisa interessante: a música de Russo esteve presente em fases agudas da história recente do Brasil e a comentou. De modo que, mesmo os que pensam que não conhecem sua música, acabam por reconhecê-la, pois em muitos momentos ela se tornou uma trilha sonora do País, tão em crise quanto o músico.

Fontoura encontra o tom justo para contar essa história. Enérgico, denso, simpático aos personagens. Thiago Mendonça faz um Renato Russo muito convincente e comovente. Os pais do roqueiro, Carminha e Dr. Renato, são vividos por Sandra Corveloni e Marcos Breda, ambos muito bem em seus papéis. Enfim, da escolha de elenco ao estilo adotado, tudo funciona muito bem em Somos Tão Jovens, filme que não sofre do pecado de outros do gênero: tem muita música. Essa cinebiografia, bastante próxima do seu personagem (nem todas o são), tem a virtude adicional de mostrar todo o encanto da juventude. Mas também seu lado problemático e dilacerante. Um belo filme.

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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