Não me interessa muito acusar Rubem Fonseca de ter trabalhado para o Ipês e ter sido, portanto, um dos think tanks que ajudaram a derrubar o governo de João Goulart e abriram caminho para a ditadura militar.
Mas me interessa muito saber se e como essa opção política antidemocrática dos anos 1960 entrou e se é perceptível em sua obra literária.
Até que ponto o antidemocrata Rubem Fonseca dos anos 1960 está entranhado nos romances e contos de Rubem Fonseca?
O tema é um desafio para a crítica.
O reacionarismo de Nelson Rodrigues está presente em sua obra inovadora?
O nazismo de Louis Ferdinand Céline compromete um romance tão visceral como Voyage au bout de la nuit?
O nazismo de Leni Riefenstahl, a "cineasta de Hitler", está presente na linguagem de filmes como Olympia e O Triunfo da Vontade?
Cada um desses casos é um caso e não se pode equipará-los.
A não ser, talvez, na rubrica "relações entre convicções políticas e a fatura da obra".
Quem for escrever uma biografia para valer de Rubem Fonseca terá de meditar sobre essa questão espinhosa.